O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, abriu mais um debate sobre o nada neste país cheio de controvérsias. Foi no dia primeiro de fevereiro. Em publicidade pelo Instagram, a prefeitura paulistana escreveu a seguinte mensagem: “Tá chegando o maior carnaval de rua do Brasil”. A publicação rendeu troca de farpas e ironias entre gestores municipais de Norte a Sul, cada qual defendendo sua hegemonia carnavalesca. Deu o que falar.

A expressão mais inteligente sobre o acontecido foi do portal Metrópoles, que classificou a episódio como “guerra civil nas redes sociais”. Além de pessoas físicas, as prefeituras do Rio de Janeiro e do Recife reagiram ao “insulto” de Ricardo Nunes. O governo da Bahia também se manifestou no conflito diplomático. Todos, ainda bem, recorreram ao bom-humor e deixaram de lado tanques, tropas e armas nessa batalha tropical. 

Para provar sua liderança de público nas ruas, Recife exaltou a multidão que segue o Galo da Madrugada. Já a turma de Salvador recorreu ao arrastão de blocos e trios elétricos – e apelou para a mitologia do axé. Por trás da descontração, no entanto, havia a disposição de contestar – a sério – o inspirador prefeito Nunes. E para isso, veja que engraçado, gestores mobilizam o aparato da máquina estatal. É muita folia.

O frevo mental chegou ao parlamento brasileiro. A deputada Tabata Amaral, num esforço de comunicação com os descolados, reagiu com esta postagem: “Como filha de nordestinos e namorada de um pernambucano (com orgulho), eu posso dizer: Que p#orr@ é essa?!?!”. Por falar em Pernambuco, ia esquecendo de anotar que a prefeitura de Olinda também contestou a capital paulista. Ficou tudo por isso mesmo.

Para botar Maceió no centro do debate, faltou a pesquisa do Instituto DataPinto sobre o desfile do bloco Pinto da Madrugada. Os organizadores e a prefeitura localizam, a cada ano, 100 mil pessoas a mais na avenida. Assim, o ano passado foram 400 mil. Este ano, o DataPinto cravou 500 mil foliões dando pinotes e piruetas no desfile à beira-mar. 

A feitiçaria numérica faz a festa dos donos do bloco – que ostenta o bizarro título de “patrimônio imaterial da cultura alagoana”. Mas o que deixa os diretores do Pinto realmente felizes tem a ver com outros números: o repasse milionário dos cofres públicos para bancar a esbórnia à fantasia. Chamam isso de espírito carnavalesco.