A defesa de Bolsonaro informa que vai pedir à Justiça a nulidade da delação premiada de Mauro Cid. O tenente-coronel contou detalhes da trama dos golpistas que pretendiam impedir a posse de Lula, prender autoridades e manter o Jair no poder na base da força bruta. “Intervenção militar com Bolsonaro presidente” era o lema daquelas passeatas que se intensificaram a partir de 2021. Seria uma nova ditadura no país.
Ajudante de ordens do então chefe daquele desgoverno, Cid é um arquivo vivo do que se passou nos bastidores do Planalto. Preso após uma antologia de delitos descobertos pela Polícia Federal, o militar decidiu delatar. Acordo fechado, ele contou o que viu e ouviu. Na condição de colaborador – para atenuar eventuais punições –, o acusado revelou informações que levaram a PF a esclarecer o passo a passo da gang do golpe.
Resumindo, o conjunto da obra resultou na denúncia de Bolsonaro e mais 33 pessoas pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Agora a parada é com o Supremo Tribunal Federal, que vai julgar os patriotas. A delação de Mauro Cid, claro, é uma peça essencial na apuração dos crimes cometidos. O relatório do procurador mostra que a palavra do delator foi confirmada nos indícios e nas provas colhidas pelos investigadores.
Mas aliados e defensores do ex-presidente tentam desqualificar a delação – alegando que Mauro Cid foi “torturado” e falou o que falou porque estava preso e acuado. Com o perdão pelo clichê, nada como um dia após o outro. No meio do ano passado, a Câmara Federal ensaiou votar um projeto para impedir a delação de acusados presos. Aqui em Alagoas, extremistas de direita saíram aos gritos “denunciando” a ideia.
Diziam aqueles senhores de família – sempre um tanto histéricos – que o projeto de revisar a lei das delações era para “beneficiar bandidos”. Menos de um ano depois, as mesmas vestais alagoanas se rebelam contra o mecanismo da colaboração premiada. Querem livrar o Bolsonaro. Querem livrar bandido? É a chamada indignação seletiva, aquela que protege seu marginal de estimação. A tese da defesa não vai colar.
Minha opinião sobre delação – que agora a ultradireita ataca pra defender Bolsonaro – está num texto de 11 de junho do ano passado. O leitor pode conferir no arquivo do blog. O título é autoexplicativo: “Delação premiada ajudou bandidos, elegeu escroques e rendeu fortunas a advogados”. É o que pensava antes, é o que penso agora.
Bolsonaristas, como se vê, fazem o contrário: ao primeiro apito do líder miliciano, saem em disparada, abanando o rabinho, e largam pelos bueiros suas “firmes convicções”.