Aí você elege um representante, na figura de um vereador ou um deputado, na expectativa de que o eleito promova debates e apresente projetos relevantes para a coletividade. Aí o parlamentar inventa leis para proibir espetáculos musicais, tenta censurar livros e outras manifestações da arte e quer legislar sobre a vida privada das pessoas. Aí você descobre que elegeu porcarias que vão piorar, muito, o nível da política.
É o que ocorre nas Câmaras Municipais e nas Assembleias Legislativas pelo Brasil afora. Em qualquer biboca pelo país, há vereadores e deputados de olho nos requebros de artistas e nas letras de música, como se isso fosse assunto para o Poder Legislativo. Pode-se especular as razões para essa postura. Uma das explicações é o tempo ocioso. Na vadiagem, a mente se dana a bolar aberrações lustradas na forma de projetos de lei.
É uma hipótese pertinente, sem dúvida. Esse tipo de ação tem sua origem na ascensão da extrema direita – e virou bagaceira com a eleição do bandido golpista Jair Bolsonaro em 2018. Uma das imagens mais emblemáticas dessa quadra desalentadora é o estudante, celular nas mãos, gravando a aula para intimidar professores “comunistas”. Adolescentes cumprindo ordem dos pais bolsonaristas. Onde fomos parar!
A vadiagem parlamentar se combina com a segunda hipótese para explicar o diversionismo de ideias cretinas. Trata-se, naturalmente, de demagogia rastaquera na tentativa de pescar uns votinhos entre incautos e desavisados. Em nome dos valores da família, nossos “representantes” surfam naquele moralismo de fachada. A “conduta ilibada” desses cidadãos não resistiria a dois minutos à luz do Sol – se é que fui claro.
Chegamos a isso. Caso sério. Todo dia algum vereador ou deputado sai com alguma presepada dessa qualidade. Os fundamentalistas vigiam banheiros de shopping, fiscalizam o funk e outras batidas, ameaçam direitos individuais e querem atazanar a vida de grupos vulneráveis. É preconceito, é ignorância, é truculência, é politicagem. Quando a gente se detém sobre métodos e práticas dessa escória, todo otimismo se esvai.