Passou despercebido um dos maiores acontecimentos brasileiros dos últimos tempos: a morte da revista IstoÉ. Normal. A essa altura ninguém está preocupado com o destino de uma publicação jornalística – ainda mais em sua versão impressa. Quem diabos vai a algum endereço “físico” adquirir uma revista “física”, feita inteirinha de papel? Os que ainda resistem com esse hábito – se leitores da IstoÉ – perderam mais uma.

A turma que comanda a revista garante que a publicação segue firme na internet. Acabou também a versão impressa da IstoÉ Dinheiro. É o desfecho de uma longa agonia. A Editora Três, antiga controladora dos veículos, administrava uma crise atrás da outra. A vertiginosa perda de compradores em banca e de assinantes torna o negócio inviável. A revista nunca conseguiu se ajustar à virada decorrente do triunfo digital.

Gigantes do jornalismo brasileiro passaram pelas páginas da IstoÉ, a começar por seu primeiro diretor de redação, o dinossauro e lenda viva Mino Carta. Ele foi convocado, após deixar a Veja, para criar um produto concorrente de sua ex-casa. O ano era 1976. A revista acaba, portanto, à beira de completar meio século de circulação. Mino, aos 91 anos, toca sua Carta Capital – com versão ainda impressa – aos trancos e barrancos.

Durante 20 anos a IstoÉ se manteve firme como a principal adversária de Veja na guerra semanal pela atenção do leitorado. Outros títulos sugiram e evaporaram em pouco tempo. Até que, em 1998, o Grupo Globo lança a Época, acirrando a briga por um mercado que, logo adiante, entraria em parafuso. A Época também acabou. O século 21 começa no embalo da revolução tecnológica, mas a grande imprensa não entendeu. 

A notícia da morte da revista impressa lembra o fim do Jornal do Brasil, que deixou o mundo do papel em 2010, também após sucessivas crises de gestão. O vilão aqui, mais uma vez, é a ascensão das chamadas mídias digitais. O grande equívoco dos grupos de comunicação foi tentar conter o que jamais poderia ser contido. Na marcha irreversível dos novos meios virtuais, a velha imprensa sofre os efeitos de um erro histórico.

Para fechar. Em 1992, uma capa da IstoÉ foi decisiva para os rumos do caso Fernando Collor na Presidência da República. “Eriberto, um brasileiro” foi a reportagem que selou o destino do presidente na CPI que o levaria à renúncia no processo de impeachment. Na matéria, o motorista conta detalhes sobre pagamentos de despesas da família do então mandatário do país. A fonte de tanto poder ruiu – e quase ninguém percebeu.