Pelas notícias que aparecem desde janeiro, a gestão na prefeitura de Rio Largo é uma das mais conturbadas do Brasil. Depois de oito anos com poderes imperiais, Gilberto Gonçalves (foto) se recusa a passar o bastão para o novo prefeito, Carlos Gonçalves, sobrinho de Gilberto por tabela. O arranjo era para manter tudo como estava – o glorioso GG dando as ordens àquele escolhido por ele para ser um prefeito de faz de conta.
Como ocorre com frequência nesse tipo de combinado, a criatura se rebelou contra o criador logo nos primeiros minutos de governo. E não foi por qualquer detalhe. GG tratou o eleito em público com palavras ofensivas, algo espantoso para quem não conhece a história do agora ex-prefeito. A situação está cada vez mais delicada na paisagem.
Um dos grandes problemas para Carlos Gonçalves, que adotou o sobrenome fantasia numa jogada eleitoral, é exatamente o espaço que ele concedeu para seu mentor. GG é secretário de Governo, cargo que ele mesmo turbinou na reta final do mandato, arando o terreno para seguir dono da prefeitura. Deu confusão dos diabos logo na largada.
Na condição de secretário tão poderoso quanto o chefe do Executivo, GG não contava com a atuação da Câmara Municipal. Ao tentar tomar os cargos indicados pelos vereadores, ele enfrentou uma rebelião do parlamento. A turma exige de Carlos Gonçalves – afinal, o prefeito de direito – que assuma seu papel e mande o GG passear.
Ocorre que não é tão fácil assim. Por isso mesmo, o prefeito já teria pedido socorro ao governo estadual. Segundo publicou o portal 082 Notícias, CG solicitou proteção policial diante do que considera ameaças por parte de seu tio fake. Pelo histórico do homem público Gilberto Gonçalves, as autoridades devem ficar em alerta total para evitar o pior.
E nós aqui debatendo ideologia de gênero, anistia para golpistas, polarização, guerra do boné, Hugo Motta e Alcolumbre. O ex-prefeito que ameaça o sucessor é filiado ao Progressistas, partido de Arthur Lira e assemelhados. Mas isso não importa. Esquerda e direita para essa gente são as faixas de trânsito. Algo assim pragmático.
O caso Rio Largo não é único. Acontece pelo Brasil, ainda que estejamos na revolução do metaverso – que muda hábitos e derruba tradições. O tempo da política é outro – e muito diverso. GG é a ilustração do passado que não passa, o compromisso eterno com o erro, o vandalismo cotra a institucionalidade. E nem vamos falar sobre pistolagem.