Gleisi Hoffmann, fevereiro de 2025: “O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras chega aos 45 anos cada vez mais vivo e mais forte. Jamais renunciamos aos valores que nos trouxeram até aqui, seja no governo ou na oposição: a defesa intransigente da democracia e da soberania do Brasil, a busca pelo desenvolvimento econômico com inclusão social, o combate à fome e a todas as formas de desigualdade”.

Propaganda do PT na televisão, maio de 2001. Enquanto o vídeo mostra um bando de ratos roendo a bandeira brasileira com voracidade, a voz de um locutor informa o seguinte: “Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil. Xô Corrupção. Uma campanha do PT e do povo brasileiro”. Lá estavam “eles”, todos os políticos ladrões alojados nos outros partidos. Era o PT no papel de ratoeira para caçar corrupto.      

Aquela campanha, lançada numa tremenda ação de marketing, foi apresentada por seu próprio criador, o mitológico Duda Mendonça. Na corrida eleitoral vitoriosa de 2002, a peça de publicidade do PT foi um dos destaques na comunicação do candidato. Até ali, a defesa da ética na política, incluindo a prioridade no combate à corrupção, era a síntese do discurso daquele Partido dos Trabalhadores. Quanta coisa mudou em duas décadas. 

O combate à corrupção evaporou do programa partidário, como confirma a fala da presidente nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Vejam lá o que ela ressalta como causas do PT agora: democracia, inclusão, economia forte etc. Nem uma palavra sobre o zelo com a coisa pública, defesa nenhuma do combate à corrupção. Sucessivas ventanias deram um xô para sempre nos slogans marqueteiros do passado.

A partir do mensalão, os casos de desvio de verbas e pagamentos de propina abalaram a imagem do petismo de maneira inédita, com efeitos devastadores. Sim, como este blog já tratou tantas vezes, em algumas ocasiões, tivemos delinquência política disfarçada de combate ao crime. A operação Lava-Jato é o ápice desse gangsterismo.

Ainda assim, entre fatos reais e armações contra seus integrantes, o PT perdeu aquela bandeira, o discurso e um símbolo históricos. Para ampliar o desalento da sigla, a direita sequestrou o tema e, como em outras épocas, posa de guardiã da honestidade e dos princípios éticos. A torcida contra estipula prazo de validade nas últimas para o partido.

Exagero de inimigo, claro. Diante do tsunami pelo qual passou, com seu maior líder na cadeia, a turma é mesmo dura na queda. Não há partido tão forte quanto o PT (quem está sumindo é o PSDB). Não fosse assim Lula não seria presidente. Nos 45 anos de fundação, a legenda encara talvez os maiores desafios de sua grandiosa história.