Nos remotos tempos da década de 90 do século passado, Alagoas esteve sob o comando de um governo a quatro mãos. E quem dizia isso era ninguém menos que o próprio governador, a lenda que atendia pelo nome de Divaldo Suruagy. Ele vivia a ressaltar as qualidades de seu vice, Manoel Gomes de Barros. O desfecho daquela parceria estremeceu Alagoas e mudou o curso da história do estado.

A atuação do vice de Suruagy fugia do padrão consagrado. Na regra geral, o que se vê é desavença entre o titular na cadeira do Executivo e o número dois associado a problemas. Há casos de sobra por todo o país. Mas com Suruagy e Mano Gomes, nada de ciúme, conspiração e rasteira. A assinatura de decisões – decretos, nomeações, notas – era sempre “a quatro mãos”. No discurso, o chefe dividiu os poderes voluntariamente.

Em tese era uma forma de mostrar entrosamento, a defesa da harmonia entre os gestores. O lado negativo era passar a imagem de um governador fraco, com pouca disposição para encarar os desafios naturais do cargo. Mas era o estilo de Suruagy. Ao longo de toda sua trajetória, a fala mansa e a discrição prevaleceram sobre a gritaria.

Corta para Maceió, fevereiro de 2025. O caso de quase 30 anos atrás lembra a relação de agora entre o prefeito João Henrique Caldas e seu vice, Rodrigo Cunha. Tudo é diferente nas duas parcerias, que fique logo claro. JHC e Cunha estão em jogada que nada tem a ver com seus precursores. Os personagens se movem por motivações muito próprias.

Mas algumas imagens no começo da nova gestão municipal parecem – e somente nesse aspecto – ressuscitar, repaginado, o Governo a Quatro Mãos. Para materializar a ideia, o prefeito nomeou cunha secretário de Infraestrutura. Passo seguinte, bota o homem para bater perna, numa agenda de “inspeção de obras”. Tudo às claras. Como se fosse sério.

O mês de gestão JHC-Cunha evidencia a operação eleitoral em andamento desde a posse. Caldas deixará o cargo em 2026, e o vice assume para buscar a reeleição em 2028. O prefeito acha que pode ser governador. Como se sabe, esse é o arranjo que explica titular e vice flanando a quatro mãos. Turbulências? É um risco sempre à porta.