Nesses últimos dias, não teve bafafá na política que superasse a notícia sobre a demissão de Rodrigo Bocardi. Colapsou a internet e a velha imprensa. O jornalista foi dispensado da Globo por justa causa, sob acusação de práticas atípicas envolvendo dinheiro. Resumindo, ele prestava serviços na área de comunicação a empresas, prefeituras, bancos e políticos. A globo não sabia das ações paralelas do apresentador.
Na condição de âncora do Bom Dia São Paulo, Bocardi costumava criticar eventuais erros no setor público e também da iniciativa privada. Agora se desconfia que ele recebia dinheiro para poupar determinadas prefeituras e empresários. Ele também treinava seus clientes, com regras e dicas, para dar entrevistas na própria Globo. Por esses episódios e mais o conjunto da obra, a emissora não vacilou quanto à medida extrema.
As reportagens sobre o caso detalham os vários contratos que o jornalista mantinha, recebendo repasses milionários, por exemplo, do Bradesco. A Globo se resume a dizer que não trata desses assuntos publicamente, e tudo está sendo administrado pelo compliance da empresa. Até agora, o jornalista não se defendeu publicamente das suspeitas. Também chama atenção o silêncio de colegas de redação. Zero solidariedade.
Segundo o manancial de textos publicados sobre o caso, Bocardi não era lá essa simpatia na turma de trabalho. As infalíveis redes sociais vasculharam o passado e reabriram episódios pouco elegantes na conduta do ex-global. Os termos que mais se associam a ele, quando se revisita essas ocasiões, são arrogância, grosseria e preconceito. Na faixa do cancelamento, isso “confirma” que o rapaz é problemático.
Caso sério mesmo. Tem a ver com os novos tempos da imprensa. E tem a ver com princípios dos velhos tempos da imprensa. Mas esse é o aspecto ignorado na cobertura do assunto. O tom e o enfoque do noticiário expõem um jornalismo nada animador – isso sem falar no exagero de espaço para um assunto específico. Parece não haver critérios.
A última coisa que li a respeito dizia que SBT e BAND desistiram de uma negociação com o apresentador depois do que veio à tona. Todos esses dados têm origem misteriosa – a famosa fonte cuja identidade é protegida por lei, em defesa do bom jornalismo. Especula-se que o demitido vai processar a Globo pelas histórias agora divulgadas.
Esse não é o primeiro caso do tipo na Globo. Outros jornalistas já foram desligados por situações semelhantes. O barulho em torno da trama com Rodrigo Bocardi mostra que há algo bagunçado no modelo de gestão da empresa. E revela também a falta de rumo na imprensa, ao reproduzir a mesma ligeireza do “Jornalismo TikTok”.