Infartos ou ataques cardíacos sempre foram ditos como mais comuns entre pessoas acima dos 40 anos. No entanto, dados do Ministério da Saúde apontam que casos de infarto estão se tornando mais frequentes em pessoas abaixo dessa faixa etária.   

Os dados do MS mostram que entre os anos 2000 e 2024, a incidência de infarto entre jovens a partir dos 25 anos aumentou em 150% e as internações por ataque cardíaco entre pessoas abaixo de 40 anos também aumentaram 184%. 

Em 2000, eram 1,7 casos de infarto por 100 mil habitantes; já em 2022, esse número quase triplicou, alcançando quase 5 casos para cada 100 mil pessoas. O mais alarmante é que o número de infartos triplicou entre jovens de 25 a 29 anos.

Ainda segundo o MS, o infarto é a maior causa de morte no país, acometendo mais de 300 mil pessoas por ano. Em Alagoas, segundo dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais de Alagoas (Arpen/AL), nos primeiros três meses de 2024, foram registradas 371 mortes por infarto no estado, entre janeiro e março de 2024. Em 2023, foram 405; 104 em 2022; 325 em 2021, e 441 em 2020.

O cardiologista Eliel Bezerra explica que o infarto do miocárdio, popularmente conhecido como ataque cardíaco, ocorre quando há uma obstrução súbita e significativa de uma artéria que irriga o coração, geralmente causada por um coágulo ou uma placa de gordura (aterosclerose).  

Em entrevista ao CadaMinuto, o médico explica o que de fato acontece para que a pessoa tenha um infarto, como é possível identificar que está infartando e demais critérios relacionados à doença.  O cardiologista também falou sobre o exprime o aumento do número de infarto entre pessoas mais jovens. 

Confira a entrevista: 

Por que e como ocorre um infarto? 

O infarto ocorre quando há uma obstrução súbita e significativa de uma artéria que irriga o coração, geralmente por um coágulo ou placa de gordura. Essa interrupção do fluxo sanguíneo leva à morte das células do músculo cardíaco naquela região. O infarto ocorre porque o coração, assim como qualquer outro órgão, precisa de oxigênio para funcionar, e quando o suprimento é interrompido, o tecido começa a sofrer danos irreversíveis. 

Há sintomas/sinais que precedem ou indicam o risco de infarto? Quais? 

 Sim. Muitas pessoas apresentam sinais de alerta antes do infarto, que podem incluir dor ou desconforto no peito (angina), cansaço excessivo sem explicação, falta de ar, palpitações, dor no braço esquerdo, pescoço ou mandíbula, tontura e suor frio. Além disso, algumas pessoas podem sentir azia intensa ou sintomas digestivos semelhantes a uma gastrite. Esses sinais podem aparecer dias ou até semanas antes de um evento mais grave. 

Como é possível a pessoa identificar que está infartando? Qual o momento mais crítico e o momento de ir a um hospital/emergência? 

O sintoma clássico do infarto é uma dor intensa e persistente no peito, em aperto ou pressão, que pode irradiar para o braço esquerdo, pescoço, costas ou mandíbula. Pode vir acompanhada de falta de ar, suor frio, náuseas e tontura. O momento mais crítico é justamente nas primeiras horas, pois o risco de arritmias fatais e morte súbita é maior nesse período. Qualquer suspeita de infarto deve ser tratada como emergência, e a pessoa deve ir imediatamente para um hospital, preferencialmente acionando o SAMU (192) para evitar riscos no trajeto. 

O cardiologista Eliel Bezerra / Foto: Arquivo Pessoal

 

Em quais casos o infarto pode ser fatal? 

O infarto pode ser fatal quando há uma área muito extensa de comprometimento do músculo cardíaco, quando ocorre uma arritmia grave (como fibrilação ventricular) ou quando há demora no atendimento, impedindo a restauração do fluxo sanguíneo a tempo de salvar o coração. Pacientes diabéticos, hipertensos, fumantes e aqueles que já tiveram um infarto prévio correm maior risco de desfechos fatais. 

Há alguma medida urgente a ser tomada quando a pessoa sente que está infartando, antes de ir a um hospital/emergência? 

Sim. O primeiro passo é manter a calma e chamar imediatamente o serviço de emergência (SAMU – 192). Se a pessoa estiver consciente e tiver em casa ácido acetilsalicílico (AAS infantil, 100 mg), pode mastigar um comprimido, pois isso ajuda a reduzir a formação de coágulos. Evite esforços e tente ficar em repouso até o socorro chegar. Se houver desmaio e a pessoa parar de respirar, um socorrista treinado pode iniciar manobras de reanimação cardíaca (compressões torácicas) até a chegada do atendimento médico. 

Quais os cuidados que as pessoas devem ter com a saúde para evitar o risco de infarto? 

A prevenção do infarto envolve a adoção de hábitos saudáveis, como: alimentação equilibrada, reduzindo o consumo de gorduras saturadas, sal e açúcares; prática regular de exercícios físicos; controle da pressão arterial, colesterol e glicose; abandono do tabagismo e redução do consumo de álcool; manutenção do peso adequado;  controle do estresse e boa qualidade do sono. 

Além disso, pessoas com histórico familiar de doença cardíaca devem fazer acompanhamento médico regular para avaliar seus riscos e iniciar tratamentos preventivos, se necessário. 

Qualquer pessoa pode infartar? Há alguma relação genética? Quem é mais propenso a ter um infarto? 

Sim, qualquer pessoa pode sofrer um infarto, mas há fatores de risco que aumentam essa probabilidade. A predisposição genética é um fator importante, especialmente se houver casos de infarto precoce na família (antes dos 55 anos em homens e 65 anos em mulheres). Além disso, indivíduos com hipertensão, diabetes, colesterol alto, obesidade, tabagismo e sedentarismo têm um risco muito maior. Homens tendem a infartar mais cedo que as mulheres, mas após a menopausa o risco feminino se iguala. 

Quem já sofreu um infarto, o que deve fazer para evitar outro? 

A pessoa que já teve um infarto deve seguir rigorosamente as orientações médicas, o que inclui o uso contínuo das medicações prescritas, a reabilitação cardíaca com exercícios supervisionados, mudanças na alimentação e acompanhamento frequente com o cardiologista. O controle dos fatores de risco é ainda mais essencial nesses casos, pois o risco de um novo infarto é alto se os hábitos não forem modificados. 

O número de infartos em pessoas jovens, inclusive em atletas, tem aumentado assustadoramente nos últimos anos, a que se atribui esse aumento de casos? 

 Infartos em jovens podem ocorrer por diferentes razões. Em alguns casos, há doenças genéticas subjacentes, como cardiomiopatias ou anomalias nas artérias coronárias, que podem passar despercebidas até um evento mais grave. Além disso, o estresse, o uso de substâncias ilícitas (como cocaína e anabolizantes), o tabagismo e até mesmo distúrbios autoimunes podem contribuir para o infarto precoce. No caso dos atletas, há um fenômeno chamado “paradoxo do exercício”, onde o esforço físico intenso pode desencadear um evento cardíaco em indivíduos predispostos. Isso reforça a importância da avaliação cardiológica para jovens, especialmente aqueles que praticam esportes de alta performance, garantindo que estejam aptos para o nível de esforço que realizam.