A Lei da Ficha Limpa só existe para perseguir políticos da direita. O defensor dessa ideia é Jair Bolsonaro, o ex-presidente que está inelegível por oito anos após ser condenado por crime eleitoral. Em 2010, o Congresso aprovou a nova lei por unanimidade nas duas Casas, na Câmara e no Senado. Ou seja, o placar arrasador teve o voto do deputado Jair Messias. O tempo passou, os ventos mudaram e a velha opinião agora é outra.

Naquela época, ele estava no bloco dos histéricos que queriam transformar a política num permanente caso de polícia. Depois do mensalão, a velha cantilena da extrema direita golpista voltou com tudo. Era o tempo em que a Veja derrubava um ministro por semana, contando com o erro de avaliação da então presidente Dilma Rousseff. A oposição ganhou o valioso apoio de boa parte do Judiciário e do Ministério Público.

Mas voltemos a Bolsonaro e a suas palavras sobre a lei que barra candidato de ficha suja. Fala o mito da honestidade: “A Lei da Ficha Limpa serve apenas para isso, perseguir direita. Ponto final. Sou radical, ideal seria revogar essa lei que assim não vai perseguir mais ninguém. E quem decide se vai eleger candidato ou não é você, não uma pessoa aqui em Brasília”. Encantador em Bolsonaro é a naturalíssima queda para o cinismo.

A serviço do mestre, deputados bolsonaristas querem avançar com projeto que altera os termos da Ficha Limpa. A inelegibilidade cai de oito para dois aos – o que na prática é a morte da lei. Nesse caso, é até elogiável a postura do Jair. O cara é sincerão. Sem disfarce. Ele quer mesmo é revogar a legislação criada para melhorar a qualidade da política. No lugar, passa a valer a nova redação, criada para beneficiar pessoa específica.

Afinal, a lei em vigor veio para caçar os patriotas da direita, como vocifera o Messias? Pera um pouco. Quem foi levado ao xadrez e impedido de disputar eleição foi um tal de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2018, condenado em segunda instância, Lula tentou, mas não conseguiu ser o candidato do PT. Barrado pelo dispositivo legal da ficha limpa, ao petista restou indicar Fernando Haddad para substituí-lo na urna eletrônica.

Mas Bolsonaro quer, de novo, uma virada de mesa. Golpista crônico, pretende impor sua candidatura ao arrepio da lei. Casuísmo, hipocrisia e delinquência intelectual se misturam aqui. Estou esperando a turma da direita alagoana vir a público defender o fim da Lei da Ficha Limpa. Cadê vocês, sabujos de tiranetes? Defendam essa jogada.