A briga dos bonés ocupou programas inteiros em todos os canais de jornalismo na TV. Incontáveis podcasts debateram o assunto com afinco, hipóteses mirabolantes e profecias eleitorais. A sacada foi de Sidônio Palmeira, o chefe da Secom, até agora tratado como gênio pelo núcleo duro do governo. Na reabertura do Congresso, ministros apareceram usando boné azul com a inscrição “o Brasil é dos brasileiros”. Repercutiu.

No dia seguinte, bolsonaristas e derivações pela direita reagiram com outro boné e uma inscrição sobre preço da carne e do café. O boné da esquerda é uma provocação à ultradireita, que andava há muito tempo com o boné vermelho do trumpismo. Fato é que, de repente, esse troço pegou embalo no metaverso – e aí a imprensa se deixou levar no arrastão. Que debate é esse? A essa altura, o tema já está sendo engolido por outro.

O vereador estreante Lucas Pavanato, campeão de votos na capital paulista em 2024, coleta assinaturas para uma CPI sobre a demissão do jornalista Rodrigo Bocardi. A Globo informou que o profissional foi demitido por violar princípios éticos. Não faz nenhum sentido a iniciativa do vereador. Mas a grotesca ideia do jovem filiado ao PL segue uma cartilha objetiva. É a aposta de todas as fichas na eterna guerra cultural.

A presepada dos bonés é antiga. Eduardo Bolsonaro é um dos pioneiros. Um dia desses, quem se expôs ao ridículo foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Quem diria que a política chegaria a esse estágio de degradação. Todas as gerações aderiram, de modo incondicional, à linguagem e à visão de mundo das redes sociais. Analistas passam horas a debater as tolices que um deputado publica durante as madrugadas.

Gusttavo Lima tem tudo a ver com isso. Cultura digital. Ostentação. Cifras milionárias. Cruzeiros e vulgaridade. O cantor é um fenômeno político tipicamente pós-moderno. Por aí. Esse enigma que seduz parte do eleitorado desafia não o “sistema”, mas as instituições. O cantador, mais do que Pablo Marçal, tem tudo para causar estrago em 2026. Aliás, aí estão dois gigantes da Revolução dos Bonés. Imagina o que vem aí.