Especulou-se, nos bastidores da política alagoana, sobre a aproximação entre o grupo dos Pereira – formado pelos irmãos Jó Pereira e Joãozinho Pereira (ex-deputados estaduais) e pelo deputado estadual Fernando Pereira – e o bloco do MDB, do qual o governador Paulo Dantas (MDB) faz parte, mas os mandatários são o senador Renan Calheiros e o ex-governador e atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB).
Bem, em política, ainda mais a alagoana, todo mundo se conversa e não é de se espantar guinadas, afinal os Pereira já estiveram ao lado do MDB e, mesmo quando no MDB, também souberam ser oposição (quer dizer: Jó Pereira soube).
É válido lembrar que Jó Pereira – em sua passagem pela Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas – esteve nos quadros do “ninho emedebista”, ainda que confrontando, em diversos momentos, os rumos do então governador Renan Filho.
Se formos buscar na recente história então, não faltarão exemplos semelhantes, como o do atual vereador Rui Palmeira (PSD), que já foi anticalheirista quando tucano e hoje é aliado. Há ainda o caso do ex-deputado estadual Davi Maia (União Brasil), do deputado estadual Bruno Toledo (MDB) e por aí vai... É a política, que fazer...
Mas, retomemos ao grupo dos Pereira!
Jó Pereira, agora porta-voz do grupo, afirma com todas as letras que não há esse diálogo com o governador Paulo Dantas para ocupação de cargos dentro da estrutura do Executivo estadual que, em breve, pode passar por uma prometida reforma administrativa. A ex-deputada estadual é enfática: o caminho de seu grupo político é ao lado, de forma fiel, ao deputado federal Arthur Lira (Progressistas), que se projeta como candidato ao Senado Federal.
A nota de Jó Pereira, entretanto, é hábil ao permitir que as entrelinhas respirem em chavões políticos que servem justamente para não fechar portas, como por exemplo, quando diz que “entendemos que os diálogos democráticos sobre o Estado sempre devem existir, visando melhorar as políticas públicas e, consequentemente, a vida da população”. A habilidade, evidentemente, não é por conta dos Pereiras, mas por conta de Arthur Lira.
Não por acaso, a nota se encerra com uma palavrinha mágica que eu aqui destaco usando maiúsculas: “Reafirmamos, portanto, que diálogos como esses citados na matéria não existem no MOMENTO, com o envolvimento do grupo Pereira, e nunca existiram, desde 2022, quando disputamos o Governo do Estado em lados opostos”.
Isto se dá, evidentemente, porque política é feita de MOMENTOS e ninguém faz previsões a respeito de um futuro que ficará lá em 2026, mesmo sendo costurado agora. Afinal, a fidelidade ao deputado federal Arthur Lira inclui acompanhá-lo em determinadas decisões e as posições futuras de Lira dependem também do que decidir o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL).
E se JHC resolver não ser candidato ao governo, o que abriria espaço para Arthur Lira ser o candidato ao Senado na chapa? E se for costurada uma aliança branca em que Lira e Renan Calheiros não se confrontem tanto em uma eleição com duas vagas abertas ao Senado Federal? Há muitos “se” pelo meio do caminho.
Se dependesse apenas de Jó Pereira, sou capaz de apostar que ela de fato sustenta a posição de que – como diz na nota – “espaços políticos, de ocupação de cargos que proporcionem a ampliação do trabalho em prol dos alagoanos e a ampliação do campo de apoio direto na administração do Executivo, ocorrem, na maioria das vezes, quando há alinhamentos de pensamentos e de procedimentos, construídos por ambas as partes”.
Nisso, de fato – entre Jó Pereira e Paulo Dantas – há um abismo, como vimos nas eleições estaduais passadas, em que a ex-deputada estadual foi vice na chapa encabeçada pelo atual vice-prefeito Rodrigo Cunha (Podemos), mas ambos acabaram derrotados pela dupla Dantas/Ronaldo Lessa (PDT). Concordem ou discordem de Jó Pereira, ela se posiciona sobre o que pensa a respeito de diversos assuntos sem muitos subterfúgios. Convenhamos que dentro de blocos fisiológicos como os formados pelos políticos alagoanos, isso é raro.
Todavia, no MOMENTO, Jó Pereira – enquanto porta-voz e personalidade mais proeminente do grupo por méritos próprios, pela forma como se posiciona e consegue fazer enfrentamentos – tem, caso não haja surpresas, portas abertas para retornar à Secretaria Municipal de Educação da gestão JHC, reafirmando a aliança circunstancial entre o prefeito e Arthur Lira.
Agora, é válido lembrar: a nota é cristalina quanto à posição do grupo: “integra um grupo maior liderado pelo deputado Arthur Lira” e – por isso – “segue aliado do Executivo de Maceió, comandado pelo prefeito JHC”. Sendo assim, no xadrez político, o futuro dos Pereira é a posição de Lira. Surpresa? Zero. Afinal, quando ocuparam espaços em gestão passada emedebista, este grupo também tinha o deputado federal do Progressistas como referencial.