Nunca se viu nada parecido na política brasileira. Em dois dias seguidos, o deputado Hugo Motta cumpriu agenda de campanha em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sim, campanha eleitoral na disputa pela presidência da Câmara Federal. Na verdade, tem-se como certo que disputa mesmo não haverá, e sim uma aclamação. Ainda assim, o parlamentar paraibano não quer correr risco e cumpre um roteiro para garantir apoios.

Vejam só, um candidato a comandar o parlamento viajando pelo país para receber apoio de governadores e prefeitos. Foi o que ocorreu nesses encontros em SP e no RJ. É a demonstração de como o Legislativo se agigantou nos últimos anos, com margem e autonomia para aprovar qualquer tipo de projeto, à revelia dos interesses do Planalto. Por isso não falta quem veja, na prática, um sistema semipresidencialista entre nós.

No palanque paulista, Hugo Motta foi prestigiado pelo prefeito Ricardo Nunes e pelo governador Tarcísio de Freitas. A dupla disse ter encaminhado ao virtual presidente da Câmara demandas do estado de São Paulo. Um dia depois, foi a vez de Motta ouvir os pedidos do prefeito carioca Eduardo Paes e do governador fluminense Cláudio Castro. Eles sabem o poderio que o Congresso tem hoje – algo, reitero, inédito no país.

Nesses atos de mobilização, estão juntas no apoio a Hugo Motta figuras de todas as tendências e siglas partidárias. Resumindo, o convescote reúne de lulistas a bolsonaristas, do PL ao PT. Todos os movimentos indicam que os grupos se acertaram na divisão de cargos na Mesa Diretora, além de comissões temáticas e postos na máquina federal. Diplomático, o candidato afirma rejeitar o “já ganhou”. Mas tá eleito.

A mesma lógica vale para a eleição da Mesa do Senado. Todas as apostas vão para o senador Davi Alcolumbre, e ninguém acredita em surpresas. As candidaturas de Eduardo Girão e Astronauta Marcos Pontes servem para tumultuar o submundo da extrema direita. Assim como Hugo Motta, Alcolumbre é o nome de consenso. A bem da verdade, Lula e o governo não têm alternativa nas duas eleições. O parlamento decide.