Não foi ninguém da oposição que apareceu falando em “tabelamento de preços” para conter uma onda inflacionária. Foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa, numa entrevista ao vivo para o Brasil e o mundo. Assim fica difícil encarar os críticos na guerra virtual pelas redes sociais. E olhe que o surto verborrágico do ministro ocorreu dias depois da posse do marqueteiro Sidônio Palmeira na chefia da Secom. É trabalho duro para ele.
Foi na última sexta-feira 24 que o baiano Costa danou-se a palestrar sobre medidas contra a inflação. A fala ocorreu após reunião de alguns ministros com o presidente Lula para tratar exatamente da alta dos alimentos. Sem que ninguém tenha cogitado medidas exóticas, o ministro se antecipou com este esclarecimento: “Não haverá congelamento de preços, tabelamento, fiscalização. Não terá fiscal do Lula nos supermercados”.
É aquele tipo de situação em que a negação enfática de algo gera mais desconfiança: será que não estão mesmo tramando algo assim? A declaração do ministro parecia o quadro de um programa de TV: “direto do túnel do tempo”. Parecia que quem falava era o Dilson Funaro ou o Sarney, lá dos confins dos anos 80 do século passado. Não tem cabimento especular essas maluquices, porque é receita para o caos. Está provado.
Todo mundo no governo Lula sabe disso. Portanto, a conversa de Costa não fazia sentido nenhum. Para fechar com brilhantismo a exposição de suas ideias sobre o tema, ele falou de redução na alíquota de importação. Mas ressaltou que alguns produtos estão em alta no Brasil e no mundo. E citou o exemplo da laranja. “O preço internacional está tão caro como aqui. O que se pode fazer? Mudar a fruta que a gente vai consumir”.
Depois de toda essa filosofia acerca da gestão de preços e mercadorias, o governo segue apanhando em decorrência da inflação dos alimentos. A disposição de Rui Costa como porta-voz da postura do governo não tem ajudado. Aliás, não é bem a praia da Casa Civil tratar dessa pauta. Pode dar opinião para a equipe, caso seja provocada. Quem deve falar são os ministros da área e o próprio presidente. Não tem mistério.
O maior congelamento de preços no Brasil foi em 1986. Entre março e novembro daquele ano, o governo Sarney pôs em marcha o Plano Cruzado. Durou uma temporada eleitoral. No fim do ano, a inflação voltou com tudo e afundou o país numa crise inédita. Não existe solução mágica nem milagre nessa parada. Tabela de preço é doideira total.