No próximo sábado, primeiro de fevereiro, Davi Alcolumbre deve ser eleito presidente do Senado, abrindo os trabalhos no Poder Legislativo. A Câmara também elege seu presidente, que, tudo indica, será o deputado Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba. Vamos nos concentrar na figura do senador amapaense. Uma trajetória política que, até um dia desses, se resumia aos domínios da floresta. Do nada, chegou ao topo.

O dia desses que mudou as coisas para Alcolumbre foi em 2019, quando se elegeu pela primeira vez presidente da Casa. Até ali, vale ressaltar, ninguém ouvira falar desse senhor. E, no entanto, o provinciano costurou em torno de seu nome um amplo acordo que lhe garantiu uma vitória anunciada. O cenário atual parece ainda mais favorável para ele nesta campanha para voltar ao cargo. Governo e oposição apoiam o nome.

Saiu Bolsonaro e entrou Lula no Planalto – e Alcolumbre tem o apoio de ambos. Tudo segue o curso natural de um grande acordão. O único ruído querendo tumultuar o que está quase pacificado é a candidatura de Marcos Pontes. Jair Bolsonaro já disparou contra seu ex-ministro por insistir com a ideia. A iniciativa do astronauta aborrece Alcolumbre, mas passa longe de representar uma ameaça a sua vitória.

Após deixar a presidência do Senado, Alcolumbre passou a presidir a Comissão de Constituição e Justiça – a mais poderosa da Casa. Foi nessa cadeira que ele avacalhou o processo de escolha de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal. Insatisfeito com o nome indicado pelo então presidente Bolsonaro, o parlamentar engavetou durante meses a sabatina do candidato à cadeira do STF. Presepada inédita no Congresso.

O astronauta tem o discreto apoio da ala mais extremista pela direita. O senador Eduardo Girão é um desses que atuam por um nome de qualidades mais reacionárias. Numa entrevista, ele defendeu que a votação seja aberta, um casuísmo evidente. É a mesma tática das eleições anteriores. O voto secreto está previsto no Regimento Interno.

Nas quadras de 2019, quando se elegeu, Alcolumbre enfrentou a mesma controvérsia – sendo que ali o voto aberto o beneficiava, ao contrário de agora. É o que parece. Naquele ano, por causa do impasse, a eleição foi bater no STF. Não deve chegar a tanto no processo do sábado que vem. Tudo caminha para uma verdadeira aclamação. Por aí.

Uma vez no cargo, se isso de fato se confirmar, o novo presidente do Senado terá de ser um equilibrista quase sobrenatural. Mais do que foi no mandato anterior. Terá de fazer avançar demandas de Lula, de Bolsonaro, do Centrão, do PT e da ultradireita. E deve tratar o STF com a devida delicadeza. Tudo isso é promessa de campanha.

São muitos interesses para acomodar. Davi Alcolumbre não passa muito a imagem de um camisa 10 da política, mas abriu caminho com jogadas de bastidores, discretas e eficazes. Se não houver um terremoto, em uma semana reassume o comando.