Falta pouco para que Reinaldo Azevedo saia por aí, entre câmeras e microfones, dizendo assim: “Não vai ter golpe!”. Tudo o mais em defesa do governo Lula ele já vem fazendo, em sua coluna do UOL e no programa O É da Coisa, no Grupo Band (rádio, TV e YouTube). O jornalista diz que “gente do mercado” e “setores da imprensa” decidiram derrubar o governo. Esses segmentos tentam de tudo para matar Lula eleitoralmente.
Em seus comentários, Azevedo fala abertamente dos “editoriais dos grandes jornais” que todo santo dia anunciam o caos – e a culpa é exclusivamente do governo. Concordo com boa parte das avaliações do ex-inimigo do PT e da esquerda em geral. Mas ninguém consegue ser, hoje, mais lulista do que o homem que deu ao mundo o verbete “petralha”. A mesma fúria agora está a serviço dos melhores ideais progressistas.
Já escrevi aqui sobre o caso Reinaldo Azevedo. Mas essa pauta é permanente. A complexidade do que houve merece um estudo de fôlego. Afinal estamos diante da maior guinada na história da imprensa brasileira. Não tenho dúvida quanto a isso. Muito se fala do caso Paulo Francis, que fez o percurso inverso – de intelectual da esquerda trotskista a defensor até de barbaridades da direita. Ainda assim, a virada de Azevedo é única.
O homem que tratava Lula a pontapés, com retórica ofensiva, reuniu em dois livros centenas de textos nos quais o alvo principal – e praticamente único – é o petista. Em O País dos Petralhas e O País dos Petralhas II (O inimigo agora é o mesmo) temos uma verdadeira antologia do ódio. O jornalista pode se orgulhar de ser um precursor das ideias que embalaram a queda de Dilma, a prisão de Lula e a ascensão de Bolsonaro.
Não por acaso, é imensa a lista de amigos e admiradores que romperam com Azevedo. Augusto Nunes e Diogo Mainardi são apenas dois dos nomes mais badalados – mas a fila de novos inimigos dobra quarteirões e quilômetros. E o que dizem esses antes parceiros ideológicos sobre o cavalo de pau do jornalista? O previsível nesse tipo de racha: ele virou a casaca porque se vendeu ao “sistema”. Vive de mamatas oficiais.
Claro que tem o lado comédia. Ver Reinaldo Azevedo entrevistando Jessé Souza é inusitado demais. O autor da bobagem Pobre de Direita é o tipo ideal que representa todos os males antes atacados pelo autor que também inventou o termo “esquerdopata”. Pois no podcast Reconversa, o sociólogo foi tratado como farol do conhecimento.
Engraçado mesmo foi ver Guilherme Boulos, também naquele podcast, tratar Azevedo como “Reinaldão”. Coisa de velhos camaradas. Pera lá!!! Boulos é outro que foi tratado com vilania em incontáveis textos do jornalista. A política cicatriza mágoas.
Fato é que Azevedo incomoda parte do topo da pirâmide. É uma voz relevante na defesa do estado democrático e no combate à bandidagem da extrema direita. Segundo suas análises, Lula corre perigo. E ele, Reinaldão, está na linha de frente da resistência.