Um governo obcecado pela algaravia nas redes sociais. Após dois anos de mandato, o núcleo duro da gestão Lula descobriu que precisa mudar drasticamente a comunicação. É mudança de linguagem na criação de conteúdos para Instagram, TikTok e outros meios de interação no pântano digital. Para resolver a encrenca, o governo chamou João Campos, prefeito do Recife (foto), visto como tipo ideal no universo instagramável.
De repente, parece que todo mundo quer replicar o modelo Nikolas Ferreira. Para todo e qualquer problema, um vídeo lacrador. Deputado federal, o delinquente juvenil causou um terremoto ao publicar uma mensagem mentirosa sobre uma suposta taxação do Pix, algo jamais cogitado pelo governo. Após o estrago, o Planalto decidiu atacar com as mesmas armas e o mesmo estilo. Mas que estilo é esse precisamente?
É mais ou menos simples. O recado ao povaréu tem de caprichar nos seguintes princípios: rapidez, truques de edição, efeitos especiais, trilha sonora de animação e humor. Na prática, vamos ver Lula empacotado em gracejos e dancinhas. O gol de placa é gerar memes. Os primeiros vídeos com essas novidades já estão no ar. E, leio na imprensa, os resultados empolgam os poetas do marketing e da publicidade oficiais.
Lembrei agora do teórico da comunicação Marshall McLuhan, um visionário da internet que formulou a ideia segundo a qual “o meio é a mensagem” – frase que dá título a um de seus livros. Alvo de críticas por promover uma visão de mundo “reacionária”, o autor anda esquecido, mas não superado. Forçando a barra numa conexão, digamos que na comunicação pelas redes a mensagem é o de menos. O que pega é a forma.
Brigar contra os fatos é pegar o atalho para o fracasso. Se esse é o novo jogo da política, então vamos todos para a vertigem infinita na tela do celular. Logo, rápido, agora e pra ontem. O dilema é como distinguir relevância de besteirada. Investir tudo num caminho único é um risco em qualquer segmento na vida privada. Também na esfera pública.
Retomando o começo, o governo, qualquer um, não pode submeter a gestão de um país ao arrastão que degrada valores e princípios. E, o mais importante, não pode ficar refém de rede social. É uma obsessão que espalha tumulto, paralisa a máquina e tem tudo para provocar fiascos a qualquer hora. Pirotecnia em tempo integral não produz milagre.