Deputados e senadores da bancada do Distrito Federal (DF) destinaram duas emendas parlamentares, que somam R$ 26,6 milhões, ao Instituto Econacional de Desenvolvimento, uma ONG com sede no centro de Maceió, em Alagoas, localizada a 1,5 mil quilômetros de Brasília.
O empenho das verbas foi formalizado no dia 19 de dezembro, mas o vínculo da organização com a Prefeitura de Maceió e a ausência de estrutura no DF têm gerado questionamentos, como revelou a coluna Paulo Capelli, do Metrópoles.
O endereço da ONG funciona, na verdade, como o Centro de Atendimento e Cuidados ao Servidor Público (CACs), inaugurado em setembro de 2023 pela Prefeitura de Maceió.
O espaço oferece serviços como pilates, fisioterapia motora, psicologia, nutrição, reeducação financeira e educação física voltados para servidores públicos municipais e seus dependentes, incluindo crianças autistas. A inauguração contou com a presença do prefeito João Henrique Caldas (PL), conhecido como JHC, que destacou o local como um “equipamento público de qualidade”.
A verba destinada ao Instituto Econacional visa implementar dois projetos no Distrito Federal voltados para mulheres. O primeiro, com emenda de R$ 15 milhões, pretende capacitar 6 mil mulheres para aumentar sua empregabilidade e autonomia econômica no mercado de trabalho. Já o segundo, de R$ 11,6 milhões, tem como objetivo capacitar 12 mil mulheres empreendedoras para fortalecer negócios já existentes, reduzir desigualdades sociais e digitais e fomentar a economia criativa.
Entretanto, as atividades da Econacional no DF permanecem obscuras. O diretor-administrativo da ONG e funcionário do CACs Éverson Pontes, afirmou que a instituição foi contratada pela prefeitura para gerir o centro em Maceió, mas não soube explicar quais projetos serão realizados no DF nem se há estrutura ou equipe na região. Ele indicou o presidente da ONG, Ramalho Souza Alves, como a pessoa responsável por responder às perguntas, mas Alves não retornou o contato.
Além disso, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) publicado em janeiro apontou que o site da ONG “não possui informações a respeito da transparência da execução de recursos públicos recebidos”. Nas redes sociais da Econacional, todas as postagens fazem referência ao CACs em Maceió, e não há menção a outros projetos ou atuação em Brasília.
Questionado sobre a escolha da ONG, o deputado Rafael Prudente (MDB), líder da bancada do DF, afirmou que foi baseada no “histórico de serviços prestados ao DF”, mas não detalhou quais seriam esses serviços. Ele defendeu que os projetos buscam capacitar mulheres e promover sua inclusão no mercado de trabalho e no empreendedorismo, beneficiando milhares de pessoas no Distrito Federal.
A destinação de recursos para uma ONG vinculada à Prefeitura de Maceió, sem comprovação de atividades no DF, segue levantando dúvidas sobre a aplicação dos valores e o impacto dos projetos. O espaço para esclarecimentos segue aberto.
Imagens: Pedro Viana/Metrópoles