As plataformas digitais, controladas pelos homens mais ricos do mundo, ensaiam uma rebelião contra a ordem jurídica em diferentes países. Empresas de aplicativo de entrega de alimento e outros produtos fazem o mesmo. Postura semelhante se observa no segmento de transporte com a Uber, 99 e outras. Pela primeira vez, o capitalismo vê o ambiente privado avançar sobre governos com a ambição de assumir o poder.

O que vem por aí é imprevisível. Do ano passado para cá, Elon Musk não para de rosnar contra o STF, com ameaças de ignorar decisões da Justiça brasileira. O oligarca do metaverso, assim como outros de mesma natureza, se movem como se fossem seres especiais, de outro planeta, com regras e princípios particulares. Assim, pretendem agir acima de códigos e normas de qualquer nacionalidade. Eis a novíssima ordem. 

Vejam o que ocorre agora mesmo na maior cidade do país. Uber e 99 simplesmente criaram um serviço de mototáxi em São Paulo, à revelia do município. Não adiantou o prefeito Ricardo Nunes imitar a retórica bravateira do bolsonarismo. O chefe da cidade está desmoralizado e implora por uma decisão da Justiça para reduzir o estrago. A ousadia dos donos do negócio na capital paulista confirma a teoria aqui rabiscada.

Como os tempos não estão para coisas simples, o fator Trump embaralha ainda mais tudo isso. Na contramão do resto do mundo, o novo presidente americano age como se estivesse virando sócio dos novos senhores do Universo. No primeiro dia de governo, o principal anúncio de Trump foi um investimento bilionário em projeto de inteligência artificial. No comando das ações, os plutocratas da economia da criptomoeda.

Não lembro de outro caso tão escandaloso quanto esse do transporte em São Paulo. Não é normal o que está em andamento. O poder público sem autoridade sobre a gestão da cidade. Como assim?! Tem a ver com o poderio descomunal das big techs. O serviço pode até ser aprovado, desde que se cumpram etapas previstas nesses casos. Mas o grande capital não quer perder tempo com “filigranas legalistas”. A rebelião se espalha.