A paixão em comum pelo cinema e a amizade de quase 20 anos levaram o jornalista alagoano Chico Fireman e o paulista Michel Simões, que trabalha com comércio exterior, a criar a distribuidora Michiko Filmes. O sonho começou a se tornar realidade no ano passado, quando eles participavam do Festival de Cannes, um dos mais importantes do mundo.
O primeiro lançamento que a nova empresa adquiriu, o filme japonês Sol de Inverno, estreou na Mostra de Cinema de São Paulo de 2024. “Foi importante estrear neste festival, porque foi nele, há 20 anos, que conheci o Michel. Na época éramos cinéfilos e blogueiros. Depois, por 7 anos, integramos o time do Cinema na Varanda, um dos primeiros podcasts de cinema do país", conta Chico.
O filme Sol de Inverno estreou no circuito brasileiro na semana passada e amanhã (23) chega a Maceió. Aqui, mais uma coincidência: “Vamos ocupar uma das salas do Arte Pajuçara, o cinema onde comecei minha trajetória de cinéfilo, onde assisti clássicos, descobri novos diretores e pude alimentar o amor pelos filmes", completa o jornalista, que se considera discípulo do saudoso crítico Elinaldo Barros, condutor das Sessões de Arte, programa de filmes independentes que deixou saudade entre os alagoanos.
Sobre o filme
O longa japonês Sol de Inverno integrou a seleção Un Certain Regard, do Festival de Cannes. Escrito, dirigido, fotografado e montado por Hiroshi Okuyama, o filme fez sua estreia mundial em maio do ano passado e, desde então, por onde passa coleciona elogios da crítica especializada, incluindo os tradicionais festivais de Toronto, San Sebastián e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Inspirado pela música "Boku no Ohisama" ("My Sunshine"), da dupla folk Humbert Humbert, Okuyama narra neste, que é o segundo longa da sua carreira, a história do pequeno Takuya (Keitatsu Koshiyama). Aos 9 anos, o menino pena para acompanhar os demais colegas, entusiasmados com os treinos de hóquei no inverno. Embora não leve muito jeito para o esporte, Takuya descobre na pista de patinação algo novo ainda mais empolgante ao assistir às coreografias graciosas da jovem Sakura (Kiara Takanashi).
Atento ao interesse do menino, o treinador Hisashi Arakawa (Sôsuke Ikematsu), ex-campeão da patinação artística, decide acolhê-lo e treiná-lo como parceiro de Sakura. Mais do que ensiná-lo, porém, a atitude do professor provoca o desabrochar destes três personagens, levando-os a formar um laço profundo.
Com esta história singela e adorável, Sol de Inverno ganhou a alcunha de “joia escondida” do Festival de Cannes. De acordo com a crítica Lovia Gyarkye, do Hollywood Reporter, "Okuyama constrói uma narrativa tranquila sustentada por um charme discreto, guiado por pela beleza da paisagem e pela nostalgia da infância". Ela ainda pontua como o cineasta é capaz de criar uma ambientação quase fantástica, “que opera como uma memória”.