Qual o tamanho da crise do Pix nos rumos do governo? Será que houve um estrago tão profundo como se fala nos quatro cantos da imprensa? Se tudo é narrativa, a versão de um desastre para Lula pode ser mais desejo do que realidade. Não vamos aliviar a situação. A derrota política é insofismável, mas é cedo para decretar o estado de terra devastada. O discurso da oposição sistemática, claro, defende que o governo acabou.

Nas mais diversas publicações, pela imprensa e nas redes, parlamentares bolsonaristas dizem que há “uma raiva generalizada” contra o governo. Por isso, os mais empolgados têm certeza de que está chegando a hora de um processo de impeachment contra Lula. O crime de responsabilidade? A intenção sorrateira de taxar as operações do Pix. Se a raiva pegar mesmo, acredita a turma da direita, o povo pode voltar às ruas com tudo.

Não é o caso. O clima está longe de algo perto dessa gravidade toda. Mas isso não significa que o quadro não possa se tornar mais perigoso. O fenômeno das ruas virou algo enigmático desde a grandiosidade das manifestações de 2013. Até hoje, o mundo político não se entende sobre aquele período que desencadeou mudanças históricas no país. E todo esse debate em decorrência de uma medida mal explicada.

O governo não resistiu ao bombardeio e recuou da normativa da Receita Federal. Petistas e aliados tentam mudar de assunto. O fator Nikolas Ferreira é quase um capítulo à parte, dada a repercussão de seu vídeo com especulações sobre eventual taxação do Pix. André Janones (o da rachadinha) vai tentar assinaturas para abrir uma CPI para investigar o colega Nikolas. É brincadeira. A estridência é marca das manifestações.

Outro sinal do tamanho da crise é o racha dentro do governo. Metade concorda com o recuo da medida. A outra metade pensa o contrário. A verdade é que precisamos de algum tempo para saber se haverá danos irreversíveis, ou se o governo volta a tocar o barco ao menos com mais tranquilidade. Apesar da atual euforia bolsonarista, falar em impeachment de Lula é tentativa de lacração. Nas cordas está Jair Bolsonaro.