O jornalista Ricardo Kotscho, com autoridade absoluta, classifica o caso Pix de “o maior erro de comunicação dos três mandatos de Lula”. Para ele, o troço “vai deixar sequelas até a eleição de 2026”. Kotscho era o homem da comunicação de Lula na campanha de 2002 e na fase inicial do governo a partir de 2003. Em texto publicado em sua coluna do UOL, ele explica, com a clareza de sempre, por que a turma do Planalto errou feio.
Em outros tempos, alguém poderia chamar tudo isso, e com razão, de “escandalização do nada”. Em cima de uma distorção sobre um fato específico, construiu-se uma farsa que ganhou ares de verdade verdadeira. O tipo de operação levada adiante nessa disputa de versões é uma das balizas da comunicação digital. O vídeo de Nikolas Ferreira se inscreve no cardápio de ações de guerra – agora na era das redes e do metaverso.
Mas, curiosamente, em seu artigo Kotscho defende que Lula deveria ter recorrido aos velhos meios para reagir à campanha de falsidades sobre o Pix. O presidente poderia ter convocado rede nacional de rádio e TV para falar no “horário nobre” – o que lhe daria uma audiência bem maior do que um vídeo gravado para as redes. No meio do tiroteio, o presidente fez uma gravação na qual faz uma doação ao Corinthians – via Pix.
Pode parecer que a ideia do veterano jornalista seja coisa de quem está por fora da era digital. Mas seus argumentos fazem sentido. Não existe fórmula única e certeira para escolher caminhos. Muito menos quando essa escolha se dá entre categorias subjetivas e novidades ainda cheias de mistério. O governo joga o jogo possível na tentativa de tirar o assunto da ordem do dia. Para isso, tem de ajustar os modos de falar às multidões.
Os desafios políticos diante do governo exigem um trabalho coordenado. É nesse aspecto que Lula e seu time pisam a bola e facilitam as coisas para a ultradireita. A chegada do marqueteiro Sidônio Palmeira para comandar a Secom é aposta de peso numa mudança de rumos. Mas nem todos concordam com tal solução, o que significa que, além das brigas lá fora, a pancadaria vai continuar dentro de casa. Tradição é fogo.
A política ainda está sob os domínios analógicos. Ou quase isso. Daí o embate com as novas gerações. Esse é um dos principais dilemas no meio de partidos, casas legislativas e governos. Numa transição fulminante, aparatos burocráticos estão sendo revirados, e nada vai sobrar de antigos modelos e ideias. Ficar para trás no tsunami significa ter dificuldades invencíveis contra o nada fantasiado de escândalo. Por aí.