Ao longo das últimas semanas, um surto recente de infecções respiratórias tem sido registrado na China. O caso chamou a atenção de autoridades e da Organização Mundial de Saúde (OMS) e logo surgiu, mundialmente a preocupação de que o vírus se espalhe pelo mundo, assim como a gripe e a Covid-199.

Segundo a OMS, o metapneumovírus humano (hMPV) foi detectado pela primeira vez na Holanda, em 2001. Trata-se de um dos diversos vírus que causam infecção do trato respiratório superior, conhecida popularmente como resfriado comum. Na maioria das vezes, o hMPV deixa os pacientes levemente doentes, mas, em alguns casos, sobretudo entre crianças, idosos e pessoas do grupo de risco, o quadro pode ser bastante severo.

A infectologista Sarah Dominique explica que o hMPV não é um vírus novo e nem uma ameaça emergente como foi a Covid-19.

“O metapneumovirus foi descrito na literatura médica em 2001, mas os estudos de sorologia, que possuem amostras de 50, 70 anos, apontam que ele já circulava naquela época. Isso demonstra que não é um vírus novo, já é um vírus que as pessoas, há mais de 50 anos, tinham imunidade contra ele. Então, ele já existia,  não é um vírus novo e temos que desmistificar para que não comecem a aparecer especulações de que ele é novo e fabricado em laboratório”, explica a infectologista, em entrevista ao CadaMinuto.

A médica esclarece que o hMPV é um vírus comum, de causas respiratórias e pertence à mesma família do vírus sincicial respiratório (VSR), uma das principais infecções associadas à bronquiolite, sobretudo entre recém-nascidos e crianças pequenas. Ambos se espalham por meio de partículas respiratórias infectadas que se espalham pelo ar, passando de uma pessoa doente para outras. Por isso, é possível pegar o vírus quando se está perto de um paciente ou compartilhando um espaço fechado com ele.

A infectologista aponta que os sintomas que uma pessoa infectada com o HMPV apresenta são, geralmente, semelhantes aos do resfriado ou da gripe, incluindo tosse, febre, dor de garganta, nariz escorrendo ou entupido, dores no corpo e dor de cabeça. O vírus pode deixar algumas pessoas bastante doentes, causando infecção pulmonar (pneumonia) ou inflamação das vias respiratórias (bronquiolite e bronquite). Os sintomas mais graves incluem respiração ofegante, dificuldade em respirar, dor no peito, tontura, fadiga intensa, desidratação ou febre persistente que não melhora mesmo com o uso de medicação.

“Pode complicar em idosos acima de 65 anos, em crianças, principalmente crianças abaixo de 5 anos, de maneira especial criancinhas lactentes e prematuras, imunossuprimidos, pessoas que têm comorbidade, como doenças pulmonares, asma, enfisema, bronquite e insuficiência cardíaca. Estas pessoas fazem parte do grupo de risco”, acrescenta.

A prevenção da infeção pelo metapneumovírus humano inclui lavar frequentemente as mãos com água e sabão, não tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos sem estarem lavadas, evitar o contacto com pessoas doentes, usar máscara em locais com muitas pessoas, não tocar em superfícies onde há muito contacto de pessoas, desinfetar objetos ou superfícies que possam estar contaminadas. Não há vacina específica para o vírus, o recomendado é que as pessoas tomem a vacina da gripe.

Também não existe medicação específica ou cura para o hMPV. Os sintomas  devem ser combatidos com anti-inflamatório e analgésicos para controlar a febre, as dores musculares e a tosse. Por vezes, pode ser necessário o uso de medicamentos sob a forma de inaladores para controlo da tosse e da dificuldade respiratória. Descanso e hidratação são essenciais. Nas situações mais graves de infeção, pode ser necessário hospitalização, com ou sem internamento, para garantir um tratamento mais eficaz e uma monitorização constante. Para esses casos, o tratamento pode incluir oxigenoterapia, administração de soros por via intravenosa e corticoides.

A infectologista Sarah Dominique / Foto:  Arquivo Pessoal

 

Sarah Dominique explica que o hMPV não contempla rol da OMS, então os planos de saúde não realizam exames para detectá-lo, e o Sistema Único de Saúde (SUS) tem uma regra de não realizar exames para detectar todos os vírus, realizando apenas exames para detectar Covid e influenza, por isso os casos de hMPV ainda não são notificados. 

“Já tive inúmeros casos no consultório, mas não foram notificados. Vou me atualizar com a Vigilância Sanitária para saber se agora vão querer que a gente notifique, eu acredito que sim. Mas eu já tive inúmeros casos no consultório do hMPV, que é onde eu consigo realizar o painel viral pelo poder aquisitivo das pessoas, porque os planos de saúde não cobrem. E pelo SUS existe uma regra, primeiro faz a pesquisa RT-PCR na secreção nasal para covid, e se vier negativo e processar faz para a influenza, se vier negativo faz para CCCR respiratório. Então assim, o Lacen não faz de cara logo para todos os vírus”, afirmou.

A infectologista diz que acha equivoco o Brasil não fazer o exame para detectar o vírus.

“Eu acho um equívoco o Brasil não fazer, porque a gente fica sem saber se a pessoa tem covid com metapneumovírus ou se tem covid com vírus essencial respiratório. Então, hoje só se faz esse exame se todos os outros derem negativo. Assim, a gente nunca vai saber se o vírus está co-circulando com covid. O Lacem de Alagoas faz o que o governo federal manda, não é uma crítica ao laboratório de Alagoas, mas eu acho errado. A gente deveria ter painel viral para tudo, deveria ser um investimento nessa área da saúde já há alguns anos. Poderíamos monitorar, para nós não sermos pegos de surpresa. Diante de uma situação dessa, como é que o Brasil vai monitorar, se não incluem isso como exame de rotina, e só se faz se o exame de covid vier negativo, se o exame de influenza vier negativo, se respiratório tiver negativo. Essa é a condição e a gente não vai diagnosticar as coinfecções", pontuou a médica.

“Na minha opinião de especialista, acho que o governo deveria fazer exame para todos e não ir numa escala de investigação, covid-influnza, depois faz o respiratório e se der negativo investiga os demais. Desta forma, tira do cidadão a oportunidade de saber o que é realmente. Ainda que seja um vírus para o qual não existe tratamento, como o adenovírus, rinovírus, metapneumovírus e influênza, a pessoa tem o direito de saber e a gente teria a noção do que estamos diante. Enfim, para as pessoas que têm plano de saúde é a mesma situação, não tá no rol da OMS e os planos de saúde não fazem o exame. As pessoas não sabem o que tem. É uma crítica minha ao governo federal, que é quem coloca o fluxograma de realização de RT-PCR nos laboratórios centrais, que são os Lacen”, conclui.