Governos revogam portarias e anulam decisões. Acontece. O caso fica mais grave a depender das razões para o recuo oficial. Pode ser uma falha técnica, a ser corrigida em nova publicação. Pode ser um deslize na redação do parágrafo quinto de um decreto. Aqui também, após ajustes necessários, assunto encerrado sem maiores dramas. Mas o que acaba de ocorrer no governo brasileiro foi algo bem diferente dessas trivialidades.

O caso do pix mostra, preto no branco, que o governo Lula foi nocauteado por uma fake news. Mais: sem alternativas para enfrentar a campanha nas redes sociais, a turma do Planalto capitulou. Coube ao ministro Fernando Haddad anunciar, durante a tarde desta quarta-feira 15, que a resolução sobre uso do pix será revogada. Não teve jeito.

Como se sabe, tudo começou com a publicação de uma norma da Receita Federal que prevê fiscalização sobre movimentação via pix. Na mira estariam transações acima de 5 mil reais mensais. E por que isso de repente? Para fortalecer o combate à sonegação de imposto, explicam a Receita, o governo, o Haddad, o Lula, todo mundo. Tempo perdido.

O que pegou nas redes foi a versão da extrema direita e do bolsonarismo. Deputados, senadores e o próprio Jair Messias espalharam mentiras sobre a criação de um “imposto do pix”. A investida criminosa colou no metaverso e ganhou as ruas. O governo perdeu.

Mas isso é o de menos. A verdade perdeu. A máquina oficial é obrigada a recuar de uma ideia por força de uma mentira escancarada. Ora, se o governo não tem capacidade para encarar uma fake news, quem haverá de ter? Não lembro de algo parecido.

Esse caso, parece, abre uma nova etapa no império da vida digital brasileira. Deve servir não apenas como alerta, mas como referência para estudo das ideias e de perfis humanos. Seria isso um exagero? Não creio. Os fatos atestam que tudo mudou.