Na lógica dos novos tempos da comunicação e da política, a ficção será realidade, e a verdade será desmentida. Não importa a base material de uma informação, a distorção em qualquer nível terá o potencial de se impor como narrativa em sentido contrário. Pensando nessas ideias diante do Caso Pix. O que se vê após anúncio do governo parece coisa de doido, doido mesmo. Mas é evidente que há método na estratégia do caos.
O governo não criou e nem vai criar imposto sobre movimentações financeiras via pix. Ninguém vai pagar taxa de coisa nenhuma ao fazer compras por meio desse mecanismo. Toda a barulheira decorre do seguinte: a Receita Federal vai monitorar transações acima de 5 mil reais – mais ou menos isso. Nada que signifique qualquer transtorno para o uso normal do pix. O problema é que este é o mundo da pós-verdade. E não tem volta.
Não adianta o governo negar. Não adianta o Jornal Nacional falar em “festival de desinformações e boatos”. A oposição, a turma à direita e o bolsonarismo despejam aquela artilharia coordenada, numa jogada para martelar a fake news terrorista: vem aí o imposto do pix. O senador Flávio Bolsonaro não se importa em deixar gravado, com sua voz e sua cara, a reprodução de uma farsa. A mentira se espalha e causa estragos.
No YouTube, um vídeo estarrecedor da revista Oeste. Uma repórter foi ao centro de São Paulo ouvir “pequenos comerciantes em pânico”. Alguns diziam que estavam com medo “desse imposto que o pessoal tá falando”. A jornalista “ajuda” os entrevistados a ficarem ainda mais confusos. Em nenhum momento, ela esclarece que o “temor” daquelas pessoas não tem fundamento. Ao contrário, a Oeste colabora para a desinformação.
O novo guru do marketing no Planalto, Sidônio Palmeira, bolou duas peças para reagir nas redes sociais. Uma delas tem o próprio Lula como garoto-propaganda. Ele aparece fazendo uma doação para o Corinthians, via pix, é claro. A segunda produção do marqueteiro é um vídeo desses engraçadinhos nos quais um cão é o astro principal. Não sei. Essas “sacadas” dos craques da publicidade fazem sucesso entre publicitários.
Fato é o seguinte: a baixaria e as “versões alternativas” seguem como modelo principal no embate político. O “Imposto do pix” já é forte concorrente do “Kit gay” na categoria Vale tudo para ganhar eleição. Diante disso, imagine o que está a caminho na campanha eleitoral de 2026. Se agora, um ano e meio antes, os sinais da podreira estão aí, que abandonemos todas as ilusões. Porque a guerra continua mais suja do que nunca.