O jornal O Globo completa 100 anos em julho, mas a programação festiva já começou. A família Marinho decidiu como que ampliar as dimensões do centenário de um veículo. Está no ar uma campanha de publicidade que celebra 100 anos do Grupo Globo. Com isso entram no pacote TV, rádio, Valor Econômico, Globo.com e Globoplay – todos mais jovens do que o jornalão. Os demais festejados pegam carona na efeméride alheia.
Pelo que entendi, trata-se de genuína jogada de marketing. Não sei se isso gera os resultados pretendidos. Não importa. O que chama atenção mesmo é a mensagem do Grupo Globo sobre a postura do jornal ao longo de um século. Infelizmente, nas quadras mais graves do país, o diário escolheu o lado errado da História. Mas, na publicidade, O Globo sempre esteve ao lado da democracia e na defesa do povo brasileiro.
Os fatos desmentem a fantasia marqueteira. Como sabemos, o golpismo e outras mazelas sempre passearam pelas páginas do veículo. Afora isso, O Globo tem seu valor. Porque as coisas são mais complexas do que projetam nosso raciocínio imediato e simplório. Como os parceiros na chamada grande mídia, o jornal escreveu capítulos marcantes, com grandes reportagens, coberturas arrojadas e bons colunistas
Ao lado de O Globo nas antigas bancas de revista, O Estado de S. Paulo completa 150 anos. O sesquicentenário do Estadão carrega nas tintas seu “papel na defesa da democracia” – num repeteco do que discursa o concorrente. Nenhuma linha sobre a adesão ao golpe de 64 e outras posturas na defesa do retrocesso político do país. No atual contexto da política, o jornal paulista é oposição sistemática ao governo Lula.
No comando editorial do Estadão está Eurípedes Alcântara. É o nome que dirigiu a redação da Veja nos anos de carnificina contra Lula e Dilma. Após ser demitido na crise da editora Abril, Alcântara virou colunista de O Globo e parecia o ocaso do antigo poderoso chefão. Mas, num gesto mais que sintomático, o Estadão decidiu recrutar o talento letal do jornalista. Outros tempos, e as partes se adaptaram às novidades.
Os jornais resistem. A verdade é que o setor demorou uma eternidade para entender o tamanho da internet. Esse é um dos fatores que tornaram a transição das plataformas algo tão dramático. Executivos no topo da analógica imprensa erraram acima da cota a que tinham direito. Numa mistura de arrogância e burrice, foram atropelados pela velocidade das transformações. Jornais centenários?! Um mundo em extinção.