E de repente o Brasil poderia dar uma pausa para um debate específico: “A democracia e os amantes”. Não vou me arriscar quanto ao mérito da abordagem de Lula sobre sentimentos e relações humanas. Como se sabe, o presidente fez uma comparação entre o marido, a mulher e a amante. Era uma piada, uma brincadeira para descontrair a solenidade que lembrava os atos criminosos de 8 de janeiro de 2023. Janja não gostou.

A fala de Lula sobre ligações amorosas causou aquele barulho que, a princípio, parece uma crise capaz de balançar o governo. Mas logo passa. É uma reação previsível diante do teor delicado do assunto, terreno fértil para vacilos e presepadas. Janja demonstrou desaprovação às palavras de Lula diante da plateia e das câmeras. Como a política não entra em recesso, o estrago na imagem do presidente se deu em frações de segundo.  

No campo dos costumes e da ideologia de gênero, Lula abriu a pista de dança para homens exemplares e pais de família. Jair Bolsonaro veio a público para se contrapor no papel de maridão dedicado ao “grande amor” de sua vida, dona Michele. De quebra, defendeu a maneira adequada de proteger e amar nossas famílias. O ex-presidente foi seguido por um exército de patriotas na defesa do lar e das interações recatadas.

No começo de 2023, Janja deu uma longa entrevista ao Fantástico. Ali, ela fala sobre a batalha permanente para “desconstruir” um homem do século 20. Parece tudo bem óbvio. Pelo histórico, a declaração de Lula é a essência do seu lulismo – mais íntimo e mais profundo. Ele veio ao mundo desse jeito, seguiu nesse embalo vida afora e, como todos nós, um dia deu de cara com um mundo novo. O companheiro precisa se ligar.

Mas isso é lá com o Lula e os seus. E na política rudimentar, o que ainda pode pintar como consequência? Nada. Embora a turma pela direita tenha explorado o episódio, a coisa não deve abrir nenhuma nova frente de danos que já não exista para o presidente. Nessas horas, fala-se do perigo da retórica do chefe à base do improviso. 

Trabalho para o novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, dizem aliados do petista. O problema é que, para escapar das armadilhas, é Lula que precisa ser obediente à equipe. E veja que, nesse caso, o trabalho do marqueteiro é resolver a fachada, o discurso, a vitrine. Porque o jeitão de Lula, bora falar sério, não vai mudar.