Dois anos atrás, uma multidão insuflada por Bolsonaro e seguidores produziu um ataque inédito às instituições brasileiras. Os criminosos invadiram e depredaram a sede dos três Poderes em Brasília. As imagens correram o mundo e foram comparadas ao episódio no Capitólio americano, dois anos antes. Centenas foram presos e mais de 300 estão condenados a penas que passam de 17 anos de cadeia. Faltam os mandantes.

Nesta quarta-feira, 8 de janeiro de 2025, o presidente Lula estará à frente de um ato para lembrar o aniversário da vitória democrática sobre o golpismo. Dois anos depois, o clima político segue com a temperatura máxima. Seja no debate parlamentar, seja nas esquinas, tolerância zero com a dissidência e a contestação a nossas ideias. Até um filme e uma premiação acabam arrastados para o centro da carnificina “ideológica”.

A ideia do governo é produzir um ato suprapartidário, para evitar a acusação de se apropriar dos fatos para faturar eleitoralmente. Lula vai ao encontro de lideranças do Legislativo e do Judiciário, além de participar de um abraço simbólico a militantes de movimentos sociais. Convidado, o deputado Arthur Lira não deve comparecer. O senador Rodrigo Pacheco também não deve ir. Alegam compromissos pessoais.     

Pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros condena os atos de violência daquele dia. Mas isso não é suficiente para a defesa da condenação dos envolvidos. É forte pela direita a agitação em defesa de uma anistia para os presos. Uma emenda à Constituição está na Mesa Diretora da Câmara. Virtual novo presidente da Casa, Hugo Motta foge do assunto. Ninguém sabe como agirá após assumir oficialmente. Vai levar à votação?

A data deve ser lembrada para celebrar a liberdade e a defesa da democracia. Mas não será assim, exclusivamente. É claro que Lula e o governo querem sair bem nos retratos oficiais. Os adversários, no entanto, não ficarão assistindo à festa como figurantes escanteados. Bolsonaro e a direita tentam sequestrar o sentido factual das coisas: foi apenas um ato de senhoras e pais de família armados com a Bíblia Sagrada.

Por enquanto, deu tudo errado para os diferentes atores na Rataria golpista. O discurso, porém, segue firme para sustentar uma versão favorável do que se passou. Estranho. Mais uma vez: o fato não resiste ao recorte letal da conveniência.