Sem querer abusar da paciência dos leitores, escrevo de novo sobre a virtual candidatura de Gusttavo Lima a presidente – o fato político mais importante do país nas primeiras 48 horas de 2025. Já escrevi sobre os danos, ruídos e mistérios acerca do anúncio do cantor. O exotismo da novidade deu um tranco no clima de recesso, férias e pauta fria nas redações. O mundo político debate, a sério, as dimensões do novo presidenciável.
Nos debates sobre o fato, vi um pensamento pintar na área diretamente de uma longa tradição. Falo de textos e opiniões em canais de TV e no YouTube. Segundo o falatório, quando o cara entra para a política, tem a vida “revirada” pela imprensa. Porque é assim mesmo, é natural, é o papel do jornalismo. Essa ideia é muito antiga. Revirar o passado é apresentar os podres daquele iniciante que pretende um lugar ao Sol e à sombra.
Amigos e funcionários teriam feito esse alerta ao cantador. Uma devassa na trajetória do bolsonarista teria efeitos temerários. Ao contrário de Pablo Marçal, Gustavo Lima não ganha nada caso seja exposto em trambiques e acordos imorais. Marçal cresce quando sua reputação bebe na lama. É um caso a ser estudado com mais tempo e boa bibliografia. Lima não está nesse patamar. Um meio escândalo esmaga o sujeito.
Lembrei agora de um clássico – a produção de dossiês. O termo parece saído de um museu analógico. Mais: é do reino do papel impresso e dos volumes encadernados. Em centenas de páginas, temos: informações gerais, descrição de hábitos, amigos e família, negócios, encrencas. Hoje, vai tudo para o WhatsApp e outras redes de conexão pessoal. Afinal, o interessado quer ver logo o que interessa, rápido, a qualquer hora.
Gusttavo Lima foi avisado sobre o perigo dos velhos dossiês cujo estrago tem tudo para ser mais explosivo no agora digital. Bem, jornalismo é outra coisa. Revirar a trajetória de uma figura pública, ainda mais aspirante a cargos na política, é obrigação da imprensa. Provavelmente, o sertanejo deve igualar as duas fontes de más notícias para ele. Mas não é assim. É o bom jornalismo que pode clarear a confusão e expor desatinos.