Durante meses de campanha eleitoral, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, fez muitas promessas. Na lista, não consta o projeto de criar 1.215 cargos em comissão ao custo de 40 milhões de reais por ano. Mas é isso o que ele acaba de anunciar, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Numa canetada, comprometer uma fortuna do orçamento para inchar a máquina dessa forma é estranho. Tem a parceria da Câmara. 

O troço foi aos vereadores na forma de Projeto de Lei, aprovado sumariamente, sem debate, sem perguntas, sem transparência. No clima de feriadão, a nova lei foi publicada no Diário Oficial. A manobra se deu após o prefeito interferir na eleição da presidência da Câmara, cooptar opositores e impor seu candidato. Foi um troca-troca sem disfarces.

O que a gestão pública e a população ganham com isso? A justificativa oficial, assinada pelo prefeito, é literatura. A gastança vai “aprimorar a estrutura de cargos de provimento em comissão e funções gratificadas, garantindo maior eficiência e eficácia nos processos de gestão pública, com melhor alocação de recursos humanos e financeiros”.

Há perguntas que o senso comum impõe. Que cargos são esses? No texto oficial, é tudo escrito por códigos. Os salários vão de 2.700 reais a 16 mil reais. Esse número alto de vagas não recomendaria ao menos uma seleção? Não seria o caso de um concurso mesmo? Dilemas retóricos que não afligem os envolvidos na ação republicana.

É uma situação tão caricatural que nem cabe falar de ideologia, Partido Liberal, Estado mínimo, nova política... O anúncio da prefeitura, repito, trata a iniciativa com calculada naturalidade. Fiquei até na dúvida se é isso mesmo, se é assim tão corriqueiro prefeituras e governos inventarem, do nada, centenas de cargos comissionados.

Não sei se é o caso de cobrar do município explicações claras sobre o projeto que nasceu de forma tão repentina, nas madrugadas de Natal. Talvez o Ministério Público venha a ser provocado. A prefeitura precisa demonstrar como chegou a essa demanda vital para a cidade – contratar um “trem da alegria”. Diante dos fatos, é suspeito.