O Brasil de 2024 bateu recorde em crimes violentos como o feminicídio. Eu sei, não é nada recreativo falar desses assuntos em pleno 31 de dezembro, quando a ordem geral é cair nos rituais e na interação festeira. Mas fazer o quê? Esse aí é do contra, dizia meu pai. Na manhã ensolarada desta terça-feira, somos informados de que 2025 já chegou na Austrália. Oba! Nas praias brasileiras, a ocupação do solo começa a 24 horas da virada.

Temas mais leves, mais compatíveis com a confraternização para trocar de ano. Com o fim de 2024, acaba o mandato de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central. A nova diretoria promete coisas mirabolantes na gestão da taxa de juros. Não parece que os métodos no BC passem por mudanças significativas. Sem avanços para valer, quem receberá as pedradas do PT pela política financeira? Isso importa para 2025?

Cinema no Brasil. Em 2024, antes de lançar O Auto da Compadecida 2, o badalado Guel Arraes lançou Grande Sertão, uma pretensiosa adaptação do clássico de Guimarães Rosa. Levar o cenário do romance para uma favela do século 21 não é problema. Tudo pode na arte, é claro. O fracasso se dá no jeito como essa escolha se materializa. A prosa de Guimarães namora a afetação aqui e ali. Na tela, esse aspecto destrói o filme.

Em 2024, o funk e seus derivados seguiram no topo das paradas. O pagode, o sertanejo e o sertanejo piorado não saem de moda. O que antigamente se chamava MPB teve a morte decretada até por Chico Buarque. Morte morrida de causas naturais teve o rock, ainda praticado por velhinhos de cabeleira rala e colorida. Alguém precisa alertá-los.

Não começou em 2024, mas nunca tantas imagens foram vistas por todo mundo, em todo canto, o tempo todo. As ruas brasileiras flagram o crime durante 24 horas sem parar. Em qualquer recanto, inóspito e distante, o que ficaria escondido se revela com uma naturalidade muitas vezes inquietante. Vigilância, controle, medo. 

De ano velho para novo ano, seguem no cambalacho as emendas parlamentares. O jornalismo fake em 2025 repetirá as jogadas do jornalismo fake de 2024. A turma do União Brasil, do PL, do PP e de outras facções promete lacração, tiro, porrada e bomba para o ano que vem. A renovação da política manterá o ritmo dessas boas ideias.

Assim como o texto anterior, este não tem a pretensão de uma crônica para os últimos suspiros de 2024. Algumas armadilhas são mais fatais do que outras – e devem ser evitadas por princípio. Agora sim, são estas as últimas palavras de um blog a poucas horas da chegada de 2025. Volto no primeiro dia, para testar limites e atacar consensos.

Sua leitura é um privilégio e um enigma. Caso sério. Obrigado.