De repente, lá se foram quatro décadas. Em março de 2025, a redemocratização do país, pós-ditadura militar, completa 40 anos. Nunca é demais lembrar: é o maior período de normalidade republicana, sem interrupções por meio da força e do autoritarismo. Uma extravagância é que o governo inaugural nessa etapa da democracia à brasileira não foi eleito pelo povo. Na eleição indireta, os eleitores foram deputados e senadores.
Em março de 1985 tomaria posse o eleito indiretamente – o presidente Tancredo Neves, ex-governador de Minas e uma lenda na arte da política. Internado às pressas, o velhinho que sacudiu o Brasil e encheu as ruas em manifestações históricas, não subiria a rampa do Planalto. O vice José Sarney assumiu interinamente, e depois em definitivo, após a morte de Tancredo. Aquilo era o prenúncio dos sucessivos tormentos a seguir.
E foram muitas as crises. Mas em nenhum momento veio a público algo como a trama de um novo golpe em andamento. Fardados mais dispostos a atentados ao regime civil sempre foram contidos na origem. Desde o primeiro dia de Sarney presidente (um civil), nunca houve a iminência de uma ruptura das instituições. Foi o que passamos a ver agora, em pleno voo do século 21. Porque a História, alguém escreveu, é dialética.
Depois do rei do Maranhão na Presidência, vieram Collor, Itamar Franco, FHC, Lula, Dilma Rousseff, Temer, Bolsonaro e Lula de novo. Saudosistas da ditadura estavam na praça logo após o adeus do último ditador, João Figueiredo. Mas eles jamais conseguiram rosnar para além de seus cercadinhos particulares. Isso também mudou, é claro, no arrastão dos patriotas preocupados com a ameaça comunista sobre a família.
Quatro décadas. Não é nada no tempo histórico, como se diz por aí, mas veja que aniversário! Até ontem, censores vigiavam o trabalho da imprensa – dentro das redações. Falar mal do governo poderia ser uma sentença de morte. Político de oposição era expulso do país ou entrava para a lista dos desaparecidos. Quem topa?
O bolsonarismo e a extrema direita reacenderam os ideais de 1964. Durante os quatro anos de mandato do capitão da tortura, as faixas estavam lá: “Intervenção militar com Bolsonaro presidente”! O grito de guerra correu diferentes regiões do país, incluindo Maceió. A presepada, sabemos agora, era um plano muito grave.
A democracia resistiu. Sinal de que há 40 anos o Brasil mudava de patamar.