Se a disputa com os adversários é parada duríssima, o que fazer com o tiroteio entre os próprios aliados? A velha expressão “fogo amigo” não dá mais conta do que se passa nas federações, coletivos e grupelhos perfilados à esquerda na guerra permanente. A impressão é de que o governo Lula nunca foi tão atacado por “progressistas” como ocorre na reta final do ano. Para estes, Lula governa para a “burguesia sudestina”.
Quando se fala do tal fogo de origem amiga, se entende que a motivação da rasteira é a ocupação de cargos. Resolver uma demanda desse nível encerra a pancadaria. No fundo, uma homenagem ao fisiologismo autêntico. Não é esse o caso envolvendo antilulistas irados com o domínio de Lula sobre todas as vias no petismo e em boa parte da esquerda. Bate no presidente quem “trabalha” pela “revolução da classe trabalhadora”.
Coisas assim eu vejo em debates realizados em faculdades públicas, ou em entrevistas de intelectuais a podcasts engajados. Um dos casos que mais chamam atenção é o professor Nildo Ouriques, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ele coordena um Instituto de Estudos Latino-Americanos. Em vídeos no YouTube, Ouriques e outros guerrilheiros da academia falam como se estivessem a caminho da luta armada.
Lula se rendeu ao jogo das forças imperialistas, numa traição aos princípios da esquerda revolucionária. As palavras são minhas, mas o pensamento é de gente que combate a extrema direita. Não se trata, ao que parece, do mero jogo numa briga por protagonismo. As falanges incendiárias pela esquerda podem ser classificadas de oposição sistemática.
Movimentos sociais? Esqueçam, dizem essas vozes que cobram um governo fechado com as bases, não com esse papo de empreendedor liberal e identitarismo. O professor Ouriques e colegas tratam com desprezo a militância política a partir de grupos – de mulheres, de negros, LGBT+ e outros. Isso aí fortalece a própria direita.
Com esse pensamento, alguns comitês – no campo da esquerda – pregam quase um racha com o companheiro Lula. Pode-se falar em oposição qualificada, porque afinal trata-se de figuras um tanto austeras, com pretensões acadêmicas. Influenciadores eruditos. Suponho que a audiência nesses ambientes esteja nos padrões esperados.
Sobre a atuação de partidos como PCB, PCO, PCBR e PSTU, é tudo uma farsa. Essas legendas vivem de “passar pano” para o governo. E afinal, “todo marxista no Brasil cai no colo do PT”, como diz um título de um “corte” do esquadrão esquerdista a postos para a batalha total. Ao governo, a dureza de encarar o duplo inimigo – até o que seria aliado.