Flávio Dino não está a passeio nos jardins do Supremo Tribunal Federal. Há dez meses com um assento no topo do Judiciário, o ex-juiz federal e ex-governador do Maranhão confirma as expectativas – para o bem e para o mal. Nomeado para o lugar de Rosa Weber, a escolha de Lula foi contestada quando ainda era uma possibilidade. Mesmo assim, o presidente ignorou as pressões para escolher uma mulher. E foi adiante.
Pragmatismo sem margem para traições e armadilhas. Lula escolheu um companheiro comunista, um camarada de absoluta confiança. A mesma régua personalíssima usada na outra nomeação para o STF, quando o petista cravou seu advogado pessoal Cristiano Zanin. Digamos que foi um contra-ataque às nomeações herdadas de Bolsonaro – Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Um dois a dois com sinais ideológicos trocados.
Como juiz da corte suprema, Dino deu votos decisivos a causas do governo. Há inclusive quem defenda que o magistrado deveria se declarar impedido em alguns casos. Foi assim em ações que mexem com questões climáticas e meio ambiente. Com o peso da toga nos ombros, o juiz meteu-se até nos preços dos serviços funerários de São Paulo.
O excesso de exposição aos holofotes tende a consequências não apenas festivas. Com seu protagonismo a partir da blindagem natural do cargo, o ex-ministro da Justiça é um dos alvos prioritários da bancada de ultradireita no Senado. É por lá que tramitam projetos para manietar as atribuições do Judiciário. Essa é a briga dos bolsonaristas.
Emendas parlamentares e prerrogativas do Congresso. As últimas decisões de Flávio Dino quase deram a ele o título de ministro do STF mais odiado no parlamento. Segue na vice-liderança porque o conjunto da obra de Alexandre de Moares acumula 5 anos de um tiroteio sem trégua. Tem até piada entre os juízes, mas todos sabem que o caso é sério.
Xandão não é um cara progressista, à esquerda no cruzamento da política. Dino veste a toga do tipo mais político do Supremo. Pelo histórico da corte, não é possível esse carimbo definitivo. Mas é o que se tem para o momento. Ao menos pelos últimos fatos, o “juiz comunista” é o principal inimigo a ser abatido... Por todas as bancadas.