Há coisas muito graves que não acabam quando acaba o ano velho. Aliás, algumas situações estão mais complexas a cada noite da virada. Falar em colonialismo cultural pode parecer ultrapassado. Mas não é. Ultrapassada é a jogada publicitária disfarçada de reportagem nos telejornais. É uma indignidade aquela “entrevista exclusiva” com perguntas combinadas e proibição a réplicas. E nada que ameace o cancelamento.
Praticamente toda semana, a Globo põe no Jornal Nacional ou no Fantástico algum lançamento “extraordinário”. E lá vem um texto laudatório sobre alguma bobagem do cinema ou da música. Dos Estados Unidos, claro. A vassalagem explícita ao produto comercial tratado como obra-prima ainda provoca, no mínimo, constrangimento. Essa traficância simbólica sempre existiu, mas hoje, com IA e metaverso, danou-se.
O anúncio embalado como informação de credibilidade desmoraliza o jornalismo. É uma das coisas que vão continuar firmes nos próximos e muitos anos. Em nome de algum respeito à verdade – e aos expectadores – a Globo deveria usar um selo que identificasse o que o jargão profissional chama de “matéria paga”. É o que os tempos atuais exigem.
O que veio para ficar, como você sabe, é o “jornalismo de celebridade”. O ano que chega certamente nos reserva muitas reportagens sobre o novo bebê da funkeira e o sertanejo que é pai pela primeira vez. Todos os jornalistas farão a pergunta essencial: “Como foi pra você sentir essa emoção?”. É uma das pautas campeãs no noticiário.
Na mesma linha, os grandes veículos darão tratamento nobre aos “desabafos” das estrelas. Xingamentos. Ameaças. Processos. Saberemos em detalhe todas as etapas da recuperação do MC não sei do Quê. Algum repórter vai mostrar, “pela primeira vez na TV”, a nova mansão de uma famosa do BBB (ou de A Fazenda, tanto faz).
Entre as novidades de 2025, que na verdade repetem 2024, estão as séries baseadas no universo da criminalidade. A morte em família, um esquema na versão mafiosa ou mais um golpista atacando nos aplicativos de interações. Um tanto previsível. Também na comunicação, apesar do oba-oba novidadeiro, muito de quase tudo é meio velho.