A pesquisa inédita do Ibrape, divulgada neste sábado pelo CADA MINUTO, confirma o que a intuição indicava. A maioria da população alagoana se diz contrária a uma eventual prisão de Jair Bolsonaro. O mérito do levantamento, claro, é estabelecer em percentuais, pela primeira vez, o pensamento do eleitorado de Alagoas sobre o delicado tema. De novo, a confirmação da força política do ex-presidente nesse recanto do país.
A popularidade do Jair por essas bandas foi confirmada nas urnas em 2018 e 2022. A capital Maceió é reduto bolsonarista dos mais fortes no país. A adesão a Bolsonaro chegou à categoria do culto a líderes afeitos ao messianismo. Não quer dizer que o eleitorado do “mito” represente um bloco homogêneo, sem nuances. Tá lembrado do pobre de direita? No dia a dia da realidade, explicações definitivas são armadilha mortal.
Para uma vertente do subcampo progressista, o bolsonarista é “o cara ressentido”, cheio de ódio decorrente de suas agruras materiais. Igrejas evangélicas e gente como Pablo Marçal “tiveram a sacada” de cooptar esse desesperado. Antes, Jair fez convergir para seu personagem as demandas de uma sociedade esgotada. A derrota nas urnas de 2022, a sentença de inelegível e a iminente condenação no STF não afetam seu prestígio.
A pergunta sobre a prisão de Bolsonaro parte da premissa de que temos um processo legal em andamento, sem atropelo e sem qualquer restrição ao direito de defesa. Quem vota em Bolsonaro não quer saber de investigação da Polícia Federal – é uma maneira de ver o mundo. Nosso parceiro tem direito a tudo, inclusive à prerrogativa de cometer crimes, sem que jamais venha a responder por seus atos. Licença plena para o delito.
Os dados do Ibrape chamam atenção para o espalhamento dos apoiadores do Jair pelo mapa estadual. A região sertaneja é a exceção. No geral, 52% dos alagoanos se dizem contra a cadeia para o líder. Em Maceió e em Arapiraca, a maioria também afirma não concordar com o encarceramento do homem. Nos demais recortes, como gênero e escolaridade, o ex-chefe do Planalto reafirma o poderio. Por isso ele delira com anistia.
Até agora, lideranças da direita trabalham pelo perdão a Bolsonaro. E o que o faz acreditar na virada de mesa é esse apoio incondicional – como o que se revela na pesquisa Ibrape e CM. Como ele pregou durante o mandato, a pressão das ruas pode intimidar os poderes constituídos. O inquérito sobre o golpe já enquadra os fatos. O povo pode não querer a prisão do Jair. Mas, se houve crime, é o que prevê a letra fria da lei.