Não existiu a trégua dos 100 dias. A chamada grande imprensa começou a bater no governo antes da posse de Lula. Ainda estávamos na transição, e os editoriais começaram a apontar “sinais preocupantes” com o anúncio de intenções na economia. Reportagens e colunas adotam a crítica  O tom na largada não iria arrefecer em nenhum momento durante os dois primeiros anos da gestão Lula 3. O clima se acirrou.

Bater em governo é modalidade esportiva a ser incentivada, cláusula pétrea na democracia. Mas não se pode ignorar o histórico brasileiro na relação entre governos e imprensa. Nem precisamos lembrar dos tempos mais agudos de adesão incondicional dos veículos aos mandatários de ocasião. No passado bem recente, a atuação da mídia profissional violou fronteiras proibidas. O golpismo enfeitiçou quilômetros e gerações.

Sempre que escrevo sobre esse tema, ressalto um aspecto: o noticiário sobre o governo não se compara, em termos de baixaria, com o tom adotado pelas redações nos anos 2000. Os dois mandatos de Lula e o período Dilma Rousseff foram alvos do pior jornalismo. Mudou em alguma medida. Não parece aquela campanha obsessiva.

Estão todos numa gritaria contra “a farra dos gastos públicos”. Para não variar, o Estadão é o mais alarmista entre os que enxergam o fim do mundo logo ali. Ainda que a pegada seja crítica, quem lê a Veja não reconhece a revista de alguns anos atrás. E não poderia ser diferente. Contra Lula, a publicação levou o partidarismo a escalas sobrenaturais.

O combate à corrupção é o grande teatro, a avenida interminável onde tudo cabe. Da Proclamação da República ao afastamento de Dilma, passando pelos golpes do século 20, o imaginário “mar de lama” serve a qualquer hora. Os piores tipos surfaram na velha onda movida aos ventos da hipocrisia. A estratégia segue mais atual do que nunca.

Mas isso aqui seria uma divagação sobre o jornalismo nos dois anos de Lula 3. Afinal, foi-se a metade do mandato. Os dois lados seguem trocando elogios às vezes acima do tom. De modo simplório, penso sempre que brigar com a imprensa é perder tempo. Na volta de Lula ao poder, digamos que o sistema midiático bate muito e assopra pouco.