Como se dizia muito antes das bets, Arthur Lira dobra a aposta e pede ao STF a liberação dos 4,2 bilhões de reais em emendas parlamentares. O pagamento foi barrado pelo ministro Flávio Dino, por suspeita de manobras ilegais na destinação do dinheiro. Não é possível saber, por exemplo, o autor da emenda, o padrinho da causa. Alagoas é o estado mais beneficiado na partilha das emendas – quase 500 milhões de reais.
Nesta sexta-feira 27, Lira acionou formalmente o Supremo, cobrando a revisão do ato que travou a grana extra para municípios e redutos políticos em geral. A Advocacia da Câmara dos Deputados garante que “não há ilegalidade na indicação dos recursos”. Sendo assim, o órgão do parlamento defende que o bloqueio da verba seja anulado sumariamente. Não parece que essa seja a disposição do magistrado. Não agora.
Diz a defesa do parlamento ao STF: “A Câmara dos Deputados tem agido de maneira cooperativa e de boa-fé, em sincero diálogo com os poderes Executivo e Judiciário, para aprimorar o processo de elaboração e execução orçamentária de maneira transparente e eficiente”. É Arthur Lira falando em nome da Casa, lembrando que seus atos obedecem a um acordo geral. Daí sua demonstração de força. É uma cobrança quase diplomática.
Antes de se manifestar publicamente, e de recorrer ao Supremo, o alagoano se reuniu com o presidente Lula. Ninguém sabe como foi o clima desse papo. Especula-se que houve alguma tensão, mas longe de um grau disruptivo (!!) O governo não se moveu no campo jurídico, como faz a Câmara. Poderia. Jogar parado também é estratégia.
Por mais que tenha acumulado capital político, a realidade está aí – Arthur Lira não tem mais o poder absoluto dos últimos quatro anos. Sua última batalha se dá com menos armas, embora ainda com um nível de letalidade não desprezível. Lula sabe que é assim.
Ao suspender o pagamento das emendas, Dino deu um passo adiante que surpreendeu e irritou o Congresso. Ao mandar a Polícia Federal abrir inquérito sobre os fatos, o STF arrastou o debate político para o nevoeiro de supostos esquemas e trambiques.
Entre o Natal e a festa da virada, o ainda presidente da Câmara teve de interromper as merecidas férias. Foi testar seu poder de fogo na solução do impasse republicano. Desfecho imediato não tem. Com uma encrenca desse tamanho, este ano fica para 2025.