Na última semana do ano, os telejornais se transformam numa mistura de presépios, tipos de gastronomia e roteiros de viagem. Tem presente, tem papai Noel, tem árvore de Natal. Apresentadores e repórteres estão no clima. Regra geral, a descontração é um mandamento na TV nesses períodos das grandes festas nacionais. Mas o acaso pode atrapalhar esse plano de pegada festiva na maior parte do tempo de exibição do jornal.
Uma tragédia muda tudo, às pressas, dado que o imprevisível escapa ao nosso controle. E quando ocorre não apenas uma, mas uma sucessão de tragédias? Foi o que aconteceu nos últimos dias – queda de avião, colisão entre ônibus e carreta e o desabamento de uma ponte. Somados os episódios, mais de 60 mortes. Reviravolta na pauta.
Aconteceu no Jornal Hoje o que pode ser classificado como um erro anunciado. Após longos minutos com a cobertura sobre o acidente aéreo em Gramado, na troca de assunto, o repórter que entrou ao vivo soltava um largo sorriso, claramente no oba-oba de dezembro. Demorou para retornar a alguma sobriedade frente ao clima pesado.
Os três acidentes ocorreram num intervalo de poucas horas. Os telejornais da semana de Natal tiveram de gastar muitos minutos contando em detalhes algumas histórias muito tristes. Não combina com a euforia exibida em várias reportagens – que não podem ser reeditadas. Os casos ainda estão no noticiário, mas agora com menos visibilidade.
Olhando meio de longe as imagens do fim de ano no jornalismo da TV, uma coisa ou outra chama mais atenção. A representação das “manifestações da cultura popular” talvez seja o ponto mais inquietante. Inescapável lembrar da engrenagem do simulacro, nos termos estudados por Muniz Sodré e outros. Parece tudo fora de hora e lugar.
Ainda que o trágico tenha forçado alteração do roteiro desenhado, é claro que a festa se impõe. Repórter experimentando comidinhas e drinques, “sem palavras” para explicar a epifania, é uma imagem inaceitável. Editores deveriam pensar numa alternativa, uma vez que a comilança estará sempre em pauta. Telejornalismo anda em queda. E faz tempo.