O projeto político de Alexandre de Moraes é a presidência da República? Para bolsonaristas, Xandão já é o “ditador” no comando de um sombrio regime comunista. Nesse enredo, tem-se uma parceria entre Executivo e Judiciário, com Lula no papel de operador maior da Matrix. O senador Eduardo Girão é a figura que me ocorre como porta-voz dos democratas que tramam a queda do ministro do STF. Eles querem barulho.

Sem querer forçar a barra, compare-se Moraes a Joaquim Barbosa, o magistrado que, no julgamento do mensalão, tomou um lado no jogo político. Antes de Sergio Moro, o juiz tratado como herói – o que é e sempre errado –, Barbosa insuflou o antipetismo. Nos debates com os colegas, apelou várias vezes à demagogia da política, desprezando evidências técnicas. Adiante, na Lava-Jato, mandaram ao lixo as “firulas jurídicas”.

Alexandre de Moraes chegou ao topo depois de uma trajetória no coração da política. Homem de confiança de Michel Temer, foi bater no Ministério da Justiça após o vice assumir o lugar de Dilma Rousseff. Uma aventura pelo mundo eleitoral não parece combinar com o atual estado das coisas. Mas, num futuro não muito distante, sim. Tal ambição bate com o perfil do careca. É o que dizem amigos e, sobretudo, os inimigos.

Em setembro, a Veja publicou reportagem sobre “a volta” de Joaquim Barbosa. Depois de ciscar uma candidatura presidencial em 2018 e 2022, ele garante que está embalado para um projeto rumo a 2026. O desafio inicial é viabilizar uma estrutura partidária forte. O ex-ministro parece fora de órbita, com falas que remetem ao cenário político de uma década atrás. A imagem do justiceiro de toga não é dos nossos melhores símbolos.

A empolgação com Alexandre de Moraes não é uma unanimidade na esquerda. Muitos alertam para o perigo desse tipo de mistificação. Tão forte quanto Xandão e Barbosa, apenas Gilmar Mendes. Todos eles são alvos de elogios e ataques. Ainda sairá do STF um forte candidato ao Planalto. Se 2026 está muito perto para uma surpresa desse tamanho, fica para a próxima. É o Supremo mais “político” do que nunca.