Ele tinha tudo para impressionar. Um currículo impecável, muita experiência, e um discurso polido, repleto de termos técnicos e frases de impacto. Mas bastava observá-lo de perto para perceber que, por trás da fachada, havia um vazio. Não de conhecimento, mas de postura.
Entre os colegas, os murmúrios eram sempre os mesmos. “Ele é fraco”, diziam, com o tom de quem já desistiu de esperar algo diferente. Não se tratava de inteligência — essa, ele tinha de sobra. Mas inteligência sem coragem é como um barco sem leme: navega, mas não tem rumo.
Era subserviente de um jeito quase teatral, como se cada gesto fosse calculado para agradar. O chefe, por sua vez, já havia entendido o jogo. Olhava-o com um misto de desdém e tolerância, sabendo que podia contar com ele para aplaudir qualquer ideia, boa ou ruim.
“Que visão incrível, chefe!”, exclamava ele, com a animação de quem acabara de ouvir a solução para a paz mundial. E o chefe, com um sorriso enviesado, apenas balançava a cabeça, consciente de que o elogio era mais um reflexo da necessidade de agradar do que de um verdadeiro reconhecimento.
Os colegas comentavam baixinho, sem esconder o desdém: “Ele é só mais um que diz o que o chefe quer ouvir.” Era difícil respeitá-lo, porque ele não se respeitava. A fragilidade de seu comportamento anulava qualquer mérito acadêmico ou profissional.
Mas talvez o pior de tudo fosse o vazio que ele carregava. No fundo, ele sabia. Sabia que sua postura subserviente não conquistava respeito, sabia que o chefe o via apenas como um peão útil. Sabia que, por mais títulos que tivesse, continuava sendo um profissional sem voz própria.
O que ele não sabia — ou preferia ignorar — era que a sobrevivência baseada na bajulação tem prazo de validade. Uma hora, a máscara cai. O chefe encontra alguém mais útil, os colegas deixam de lado a paciência, e ele, com toda sua bagagem profissional, se encontra sozinho, sem apoio e sem credibilidade.
Por enquanto, ele continua ali, deslizando pelos corredores como uma sombra, sempre pronto para concordar, sempre pronto para agradar.