Até 2017, o inimigo mortal do povo brasileiro, segundo os convescotes da esquerda esclarecida, era o Neoliberalismo. A figura que resumia todas as mazelas desse modelo econômico e político era Fernando Henrique Cardoso. Que sujeito desprezível era aquele presidente disposto a privatizar tudo! Décadas depois, as “maldades” de FHC e sua turma parecem brincadeira, perto do que o país veria a partir da eleição de 2018. Na história a quente, é bom ressaltar, lidamos com aproximações, não com vereditos.
Antes da degradação sem precedentes produzida com a ascensão de Bolsonaro e da extrema direita, os neoliberais eram os inimigos a serem combatidos. Em seminários acadêmicos, ou encontros promovidos por veículos de comunicação, a grande confusão se instalava no bate-boca sobre os adeptos dessa corrente de pensamento. Aécio Neves, José Serra, Armínio Fraga e outros representavam o selo de um ideário contra o povaréu.
Há mais de uma década, o panorama começou a ganhar novidade. As manifestações de junho de 2013 teriam sido o pontapé inicial de uma inflexão arrasadora. Sempre haverá fatores precedentes, porque nada surge do nada, mas aquele movimento foi algo fora da curva. Mesmo com divergências pontuais, há um consenso quanto ao peso de 2013.
Mas eu falava do espantalho chamado “neoliberalismo”. A assombração perdeu espaço com as novas ondas da política, embora ainda apareça entre os saudosistas do passado recente. Destino mais obscuro teve a “globalização”. O conceito explodiu após a extinção da União Soviética e a queda do muro de Berlim. Seria o “fim da História”.
Naquele tempo, para se mostrar ligado às novidades, sempre havia alguém por perto abrindo uma grave sentença com uma espécie de aviso prévio, assim: “Nesse mundo globalizado...”! E qualquer despropósito se encaixaria como desfecho à altura do alarmismo – muito mais retórico e pouco aderente ao mundo real.
Sempre com um delay em relação aos ventos do Velho Mundo, “ideologia” e seus derivados tomaram conta do ambiente universitário do país, por toda a década de 1980. Até Cazuza queria uma para viver. Quase todos acusavam algum “interesse ideológico”.
Conceitos, ideias e palavras vão e voltam, com variados sentidos, na guerra política que aí está. Até o comunismo está na área – e não apenas por obra de seus inimigos. Parte da esquerda prega “a ação comunista para derrotar o imperialismo”. Silêncio.