O governo em crise e a comunicação ineficaz. É um dos debates que agitam colunistas na imprensa, além dos envolvidos diretamente numa eventual reforma ministerial. O governo precisa falar com esse ou aquele público, tem que sair pra chuva – decretam historiadores, sociólogos, psicólogos e marqueteiros a granel. Muita retórica, pouco senso de praticidade – seria por aí a via para resolver a fragilidade acusada por tantos?

O mesmo diagnóstico atravessa todos os governos desde a redemocratização. De Fernando Collor em diante, a certa altura do mandato, nas últimas três décadas e meia, o ocupante do Planalto agiu para “corrigir falhas” na comunicação. Como escrevi em outro texto sobre a política, até as reviravoltas reproduzem galhos previsíveis. Sem novidade. 

Especialistas ensinam, com ares de profundidade, que você precisa “falar para fora da bolha”. Toda vez que leio isso em alguma armadilha disfarçada de reportagem (ou de análise), lembro automaticamente da antiga “zona de conforto”. A bolha desses últimos anos era, décadas atrás, aquela zona. Hoje andam juntas por aí, nos bares e academias.

Falando em comunicação, a publicidade segue firme na vocação de produzir mitologias e mistificações. Pensando no anúncio do Itaú com as Fernandas (Torres e Montenegro) e a ginasta Rebeca Andrade. Será que elas acreditam pra valer naquela emoção simulada? É uma pergunta retórica. Há boa literatura sobre essa fantasia da propaganda. 

Para o governo, falam num marqueteiro de campanha eleitoral para assumir a Secom federal, no lugar de Paulo Pimenta. Com status de ministério, a pasta ficaria submetida a uma cabeça com atenção no imediato. O atual titular é um petista de raiz, com histórico de embates pouco elegantes. Ele briga para ficar, e o presidente mostra indecisão.

Faz sentido tamanho estardalhaço? Acho que não. Claro que estratégia de comunicação é essencial. Mas nada justifica o tratamento dado ao tema em parte da imprensa. Metade do mandato vai acabando. O que dizem os craques da área? “Mantenha o foco e surpreenda”. Foi o que acabei de ler, acredite. A ciência do marketing é controversa.