A proximidade do fim de ano nem sempre é sinônimo de celebração. Para um administrador de 35 anos, que mora em Maceió e preferiu não se identificar, dezembro é um mês que amplifica sentimentos de solidão e introspecção.

“Dezembro, pessoalmente, é um mês complicado para mim. Sempre foi assim, há 10, 15, 20 anos. Ele coloca em evidência a solidão”, desabafa.

Esse relato está relacionado à melancolia comum no fim de ano, conhecida como “dezembrite”, um sentimento de reflexão sobre conquistas e perdas, além da pressão para ser feliz durante as festas. 

Para o profissional, as festividades impossibilitam a fuga dessa realidade. Sem relacionamento ou filhos, ele descreve a dificuldade de se encaixar nos planos dos outros.

“Meus amigos, que têm tudo isso, estão vivendo suas vidas, como é o certo, o normal. Não é sobre os outros, é sobre mim. Mesmo quem não tem filhos ou relacionamento ainda se reúne com pais, tios, primos... mas isso também não acontece por aqui.”

Apesar da melancolia, o entrevistado reconhece avanços pessoais neste ano. “Um dos meus objetivos era estabilizar minha vida financeira, quitar dívidas, alcançar uma estabilidade, e eu consegui. Pelo menos, isso foi alcançado, o que abre portas para os planos do ano que vem também”, afirma.

Ele também vê dezembro como um espelho, refletindo suas escolhas. “Isso é consequência das minhas atitudes”, reflete.

Por que dezembro mexe tanto com as emoções?

A chegada de dezembro, com suas festas e clima de encerramento, traz à tona uma série de sentimentos variados. Segundo Mariana Lopes, psicóloga clínica e perinatal, isso ocorre devido à sensação de finalização de um ciclo.

“Sempre que temos algo terminando, um ciclo ou período, isso traz um senso de urgência sobre o que ainda não realizamos e que gostaríamos de concretizar. Isso pode gerar ansiedade, frustração, tristeza, mas também alegria e celebração, dependendo de como cada pessoa encara esse período”, explica.

Embora para alguns o fim do ano seja motivo de celebração pelas conquistas, para outros, a pressão de metas não cumpridas pode ser avassaladora. “É importante destacar o que foi realizado e valorizar as conquistas, mesmo que pequenas. Mas muitas vezes, temos a tendência de focar no que falta, no que não foi feito”, ressalta Lopes.

 

Psicóloga clínica e perinatal, Mariana Lopes - Foto: Divulgação 

 

Impacto das frustrações de expectativas sociais na saúde mental

As metas não alcançadas são uma das principais fontes de frustração no fim de ano, especialmente em Alagoas, onde a pressão social para “atingir marcos” parece ser ainda mais evidente. Lopes aponta que o sentimento de frustração está diretamente ligado às expectativas criadas.

“Falo de metas que nem sempre são possíveis de cumprir e, quando não são alcançadas, isso gera frustração. Muitas vezes, a questão não é a capacidade, mas fatores externos, imprevistos e até a realidade do tempo disponível”, analisa.

Mariana descreve como as cobranças externas surgem em diferentes fases da vida. “Se você se forma, já perguntam em que você vai trabalhar; se casa, quando vai ter filhos; se já tem filhos, quando vem o segundo. Essa constante pressão de estar sempre cumprindo etapas faz com que muitas pessoas se sintam ansiosas e inadequadas”, observa.

Como lidar com a pressão das retrospectivas e resoluções de ano novo?

Refletir sobre o ano que passou e planejar o próximo é positivo, desde que feito com empatia e sem comparações excessivas. Mariana sugere que a chave está em olhar para a individualidade de cada um.

“A pressão vem muito dessa tendência natural de se comparar com os outros. Mas precisamos lembrar que as redes sociais mostram apenas recortes da vida das pessoas. É importante se comparar consigo mesmo e observar o próprio progresso”, orienta.

Ela também reforça que o fim do ano não é definitivo. “É o final de um ano, não o final da vida. Um novo ciclo vai começar, e é possível dar continuidade às metas no próximo ano. Ter essa perspectiva ajuda a reduzir a sensação de urgência e o peso emocional.”

Para Mariana, transformar a frustração em algo mais positivo requer uma mudança de foco. “Temos a tendência de olhar para o que falta e esquecer de valorizar o que foi feito. Mesmo pequenas conquistas têm sua importância e devem ser reconhecidas. Essa reflexão positiva pode ajudar a encerrar o ano com mais leveza”, afirma.

“Acolher as próprias limitações e buscar ajuda, quando necessário, são formas de lidar melhor com os desafios emocionais do fim do ano. Afinal, o importante é seguir em frente com a consciência de que cada dia traz novas oportunidades”, finaliza.