Aconteceu em Maceió na noite do último dia 17. Um advogado e um jornalista denunciam que foram alvos de uma abordagem policial classificada por eles como “truculenta”. O episódio foi noticiado pela Tribuna Independente. Os dois amigos seguiam de carro pela avenida Monte Castelo, no bairro do Vergel do Lago, quando foram parados por uma blitz do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar. 

A dupla foi abordada aos gritos, com armas apontadas em sua direção. Sendo uma “blitz de trânsito”, os PMs não pediram o documento do veículo nem a Habilitação do motorista. Ao se identificarem como jornalista e advogado, os dois foram hostilizados com palavrões. Tiveram de ficar de costas, mãos na parede, enquanto eram revistados.

O carro também foi vasculhado pelos policiais, sem que houvesse algum indício de que tal procedimento fosse necessário. Um dos agentes da lei chegou a dizer que o homem ao volante poderia ter levado um tiro, porque abriu a porta “antes da ordem”. Tudo muito fora dos protocolos para uma operação desse tipo. Uma ação, parece, abusiva.

E por que essa abordagem com jeitão de arbitrariedade? Foi o que os alvos da PM quiseram saber. A resposta, segundo a versão dos dois amigos, é o retrato do Brasil. Um dos policiais foi direto ao ponto: aquele é “um bairro muito perigoso”. Lembra aquele coronel de São Paulo que ensina a diferença entre a periferia e a “área nobre”.

Vergel, Ponta Grossa, Joaquim Leão e vizinhança. É a minha área. Milhares e milhares de famílias vivem por essas bandas, hoje muito mais agitadas do que vi décadas atrás. A expansão da cidade mudou a paisagem. Escolas, academias, unidades de saúde, pontos de diversão, bares, restaurantes – tem de tudo por aqui. Uma coisa nunca mudou.

Assim como diversas regiões da capital, para o poder público, o Vergel não passa de um lugar “perigoso”! É o que devem ensinar nos cursos de formação de policiais. Para mostrar serviço no “combate à violência”, as forças de segurança baixam nessas localidades, até de madrugada, invadindo casas sem ordem judicial, tacando o terror.

O caso do advogado e do jornalista foi denunciado formalmente à Corregedoria da PM, que promete “apuração rigorosa”. Quando governador, Ronaldo Lessa se orgulhava de ter implantado um modelo de Polícia Cidadã cujo eixo era o respeito aos direitos humanos. Rendeu prêmios e reconhecimento nacional. A semente foi envenenada.

Os números da matança policial Brasil afora demonstram que a formação de militares é um desastre. Sempre foi assim. A bandalheira bolsonarista dos últimos anos escancarou essa vocação para a barbárie em trajes oficiais. O horizonte não autoriza otimismo.