Num breve discurso de despedida do cargo de presidente da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira 19, Arthur Lira filosofou sobre o futuro após deixar o posto de mandachuva no parlamento brasileiro. Descontraído, falou de uma “maneira de um nordestino viver feliz, sem criar expectativa e matando um leão por dia”. Faltou pouco para o alagoano exaltar sua admirável capacidade de “resiliência e superação”.
A imprensa quis saber se ele estaria mesmo às portas de algum ministério do governo Lula. Num esforço para exibir desapego existencial, o deputado diz que vai “descansar um pouco” e, em 2025, pode recomeçar de onde saiu, “voltando para o chão da fábrica”. A expressão, diriam os desafetos, é praticamente uma apropriação cultural indevida.
Claro, era uma espécie de metáfora bem-humorada. Até porque Lira nunca foi operário – operador, sim. Como seria previsível, tratou de elogiar os pares e ressaltou que defende a Câmara “com muita tranquilidade, em todos os momentos”. As poucas palavras foram suficientes para confirmar um óbvio entendimento: salve o histórico corporativismo!
No mundo real, as especulações em torno do futuro imediato do ainda presidente da Câmara apontam, sim, para o governo federal. No comando de um ministério, ele terá uma arma poderosa para sua guerra eleitoral em Alagoas. O projeto desse nordestino singelo é garantir um mandato de senador nas urnas de 2026. Não há plano B.
Um fato não se pode negar. Arthur Lira foi um presidente da Câmara com um poder absoluto durante os quatro anos de mandato. Primeiro com Bolsonaro, e depois com Lula no Planalto, jamais conheceu o fracasso ou o isolamento. Acusado de truculência, teve o apoio incondicional do “chão da fábrica”. Com ele, o cafezinho nunca esfriou.
Não é exagero o que dizem por aí: desde a redemocratização, Arthur Lira foi o presidente mais poderoso na Câmara dos Deputados. E isso aparece até nas últimas horas de sua gestão, como ele prova agora nas votações do pacote de ajuste fiscal do governo. Com essas credenciais, não é plausível que ele siga para a irrelevância. Seguirá pelo topo.