Milhares de reais em malas entocadas no armário, embaixo da cama, em compartimentos falsos. Na hora do flagrante, malas entupidas de dinheiro são jogadas pela janela do apartamento ou pela janela do carro em fuga na autoestrada. O velho padrão, um dia, chegou ao estado da arte com o político baiano que escondia 51 milhões de reais num imóvel de Salvador. O nome dele era Geddel Vieira Lima. O ano era 2017.

Geddel, então um dos maiores especialistas na baixa política, segue inalcançável no recorde de flagrantes desse tipo. Ninguém, nem antes nem depois de sua aventura monetária, bateu a cifra de proporções pantagruélicas. Carregar fortunas em dinheiro vivo, como se a existência de bancos ainda fosse uma ideia a ser rascunhada, é sinal de algo suspeito. Sendo assim, desvendar esse mistério é desafio recorrente no país.

Lembrei do glorioso baiano após uma interminável sequência de imagens exibidas pela imprensa nos últimos meses. Todo dia, alguma operação policial apreende bolsas, sacolas, caixas, malotes, malas e maletas abastecidas com reais, dólares e euros. Dispensar o serviço bancário é uma prática em diferentes ramos de negócio.

Algumas das atividades que adotam o transporte e a posse da grana em papel-moeda: mercadores de substâncias recreativas, milicianos, servidores em secretarias de governo, lobistas em estatais, lobistas em CPI, arrecadadores de propina no comércio, influenciadores de bets e relacionamentos, empreendedores eleitorais etc.

Com a avalanche da cultura do empreendedorismo e da ostentação, um produto passou a concorrer com a apreensão do dinheiro vivo: toda operação que se preze tem de apreender carrões de superluxo. Tudo isso sempre existiu, é verdade, mas a frequência de casos hoje em dia escalou patamares jamais registrados – e o fluxo não arrefece.

Siga o dinheiro, reza uma lenda do cinema americano sobre como investigar. Não tem dado muito certo no Brasil. As malas aparecem, os rastros até são evidentes, mas o fio da meada acaba esfarelado com a demora da ligação entre os pontos. No ramo político-eleitoral, então, a taxa de sucesso nas apurações é quase zero. Sobra impunidade.