Em Brasília, os terraplanistas do parlamento brincam de fazer política na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Dominada por bolsonaristas e defensores de ditadura, a CCJ é o ambiente mais poluído do Congresso Nacional. Não importa o tema em debate, nesse pântano tudo acaba em “denúncias” contra o perigo comunista da “ideologia de gênero”. O ridículo e a hipocrisia vadiam de mãos dadas.
No colegiado dos fundamentalistas prospera todo tipo de projeto de lei contra os direitos da mulher, de pessoas LGBT, de grupos vulneráveis. A fixação em temas da intimidade alheia tenta queimar obras literárias e censurar palestras em universidades. As recatadas e os machinhos histéricos passam mal diante de uma deputada como Erika Hilton.
A perversão do moralismo hipócrita saiu dos porões e se espalhou por governos, prefeituras e casas legislativas do país. Em julho deste ano, um vereador achou de fiscalizar os banheiros de um shopping em Maceió. Sua preocupação era com a suspeita de que haveria “mictório em banheiro para mulher”. Após a “vistoria”, ele serenou.
Agora, para fechar 2024 com brilhantismo, a Assembleia Legislativa alagoana acaba de aprovar uma lei sobre “sexo biológico e prática esportiva”. A capacidade de produzir lixo em forma de projetos de lei é uma das qualidades do nosso parlamento estadual. A indecência serve apenas para turbinar o preconceito e a violência contra pessoas trans.
A histeria dessa gentalha lembra Dona Bela, personagem da extraordinária Zezé Macedo na Escolinha do Professor Raimundo, do gênio Chico Anysio. Diante de qualquer pergunta, a aluna associava o assunto a peripécias de um erotismo proibido. Para mostrar sua indignação ao mestre, sacava o infalível bordão: “Só pensa naquilo”!
Na escolinha dos pervertidos da política não há brincadeira nem comédia. É apenas demagogia mesmo, de olho no eleitorado verde e amarelo – aqueles patriotas que apoiam golpismo, tortura e extermínio nas periferias brasileiras.