No estilo Jair Bolsonaro, João Henrique Caldas ensaia descumprir a decisão judicial sobre a tal faixa verde em parte da orla marítima de Maceió. Em nota, o Departamento Municipal de Transporte e Trânsito diz que o órgão “não foi notificado”. O DMTT diz ainda que a iniciativa da prefeitura foi baseada em “estudos técnicos”. Ocorre que ninguém conhece uma linha produzida por esses estudiosos a serviço do senhor JHC.

Fato é que as mudanças no trânsito na região da Ponta Verde, impostas goela abaixo da população, até agora se revelam um desastre. Os maiores prejudicados: uma vastidão de pequenos negócios e incontáveis ambulantes que atuam por ali. Com a queda brusca no movimento de clientes nos bares e lanchonetes, há o risco de demissões de centenas de trabalhadores. Um presente de Natal para abastados vendedores de água de coco.

A alegação dos gestores da capital alagoana, instalados no prédio da cooperativa dos usineiros, em Jaraguá, é de que se trata de uma ação para “melhorar a mobilidade urbana”. Só pode ser brincadeira. A consequência da tal faixa verde é o contrário. As intervenções recentes deixaram o trânsito muito pior por aquelas bandas da Ponta Verde e Jatiúca. A bagaceira se estende pelos bairros vizinhos, como se nota facilmente.

Quando se mexe numa área da cidade, as consequências se espalham. A restrição para o fluxo de carros e a proibição de estacionar ao longo da avenida empurraram o caos para as ruas paralelas. Prejuízo generalizado. O panorama de agora, ao contrário da fantasia oficial, é de imobilidade geral. E, insisto, quem está lascado são trabalhadores que, de repente, são expulsos dos pontos em que comercializavam seus produtos.    

A gestão baseada exclusivamente em rede social nem sempre é o melhor caminho para se obter “curtidas”. Se a prefeitura pretende fazer da cidade um balneário para os bacanas, aí é com a turma do influencer do TikTok. Zero debate. Mobilidade urbana é coisa séria. Como escrevi em texto anterior, um tema complexo como este não pode ficar a cargo de aloprados. O improviso da “faixa verde” revela o amadorismo da rapaziada.

E finalmente, mas não menos importante, o Brasil rejeitou aquele modelo administrativo do “Acabou, porra!” – se é que me faço entender. A cidade não é uma fazenda de Ibateguara, propriedade particular de herdeiros das oligarquias. Mudança de peso no dia a dia da população requer ideias claras, projetos realistas e debates com a participação coletiva. Tudo o que não houve agora, nesse espetáculo de autoritarismo delirante.