O lado bom das redes sociais é que figuras públicas, antes protegidas por formalidades inerentes aos cargos que ocupam, se revelam em toda a sua idiotia. Basta uma simples postagem no Instagram, ou em qualquer outro ambiente do metaverso, para que a própria autoridade exponha sua indigência intelectual. É a única explicação para o gesto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o matador que prega “moderação”.

O extremista da direita – que o mercado tenta envernizar – divulgou a foto que você vê acima. Em imagem fabricada por inteligência artificial, ele aparece ao lado de Elon Musk num passeio pelas ruas da capital paulista. Seria uma peça de publicidade para divulgar o projeto de um novo centro administrativo. Marqueteiro adora essas presepadas. O autor da ideia se acha um gênio. O cretino do governador embarcou na patacoada.

Uma das coisas mais irritantes na vida contemporânea é essa vassalagem aos bilionários da plutocracia digital. Há um fascínio estúpido pelos donos do dinheiro, como se a conta bancária desse a alguém alguma qualidade especial. Musk, o delinquente do X, tem pretensões de governar o mundo, como ele próprio já afirmou ao falar do Brasil.

Veja, não há qualquer conexão lógica na peça publicitária do governador. É a imagem pela imagem, e mais nada. Musk está ali porque é trilionário e porta-voz do obscurantismo que embala reacionários de todos os tipos e quadrantes. Tarcísio, que tem como projeto ser presidente do país, é o sujeito capaz de uma babaquice como esta.

Lembrei agora que Romeu Zema, o governador de Minas Gerais, não sabe quem é Adélia Prado, sua conterrânea e um dos maiores nomes da literatura brasileira. Mas Elon Musk e outros da mesma estatura, aí ele conhece bem. Poesia, para esses abrutalhados, é papel-moeda. E essa gentalha se atreve a prescrever “ideias e projetos” para o Brasil.

Voltemos a SP e aos fundamentalistas da panaceia digital. As estripulias pelas redes são uma realidade definitiva, claro. Estão aí os gestores públicos “renovando a política”, a pleno vapor, em dancinhas e rebolados pelo TikTok. Onde foi que perdemos o rumo? É a pergunta retórica dos que ainda acreditam em algum caminho para a salvação.

Como estamos na época festeira de dezembro, digamos que você pode manter a fé. Não quero pregar o baixo-astral. Mas não ignore o que está na cara: a idiotia de Tarcísio, Musk e assemelhados dá as cartas. É o padrão que se impôs às multidões, com a luxuosa grife da inteligência artificial – e com uma estupidez naturalíssima.